segunda-feira, dezembro 12, 2011

Publicação em coletânea de contos

Como muitos já sabem, além de ler gosto também de escrever. É óbvio que trata-se de uma atividade amadora, sem muitas aspirações. Fiquei muito satisfeito quando em agosto de 2010 tive um dos meus contos aprovados para ser publicado em uma coletânea .

Acabei divulgando a notícia entre amigos, publicando no blog, Twitter, etc. Era natural que as coisas demorassem a acontecer, afinal havia vários autores envolvidos e existe uma burocracia imensa para conseguir publicar um livro. Mas ... algum dia iria sair o livro. Ou não ?

A verdade é que um ano e meio depois nada de livro, e nada de nada. Tentei buscar informações no blog Na Ponta dos Lápis que promoveu o concurso. Sem sucesso. Consegui contactar, através do Twitter, Leonardo Schabbach, responsável pelo blog e pela promoção. Para minha surpresa, me relatou que não consegue há muito tempo contato com a editora que ficara responsável pela publicação. Existe contrato assinado, inclusive com os autores.

Fica difícil saber exatamente o que aconteceu. De qualquer maneira, vejo a situação toda como uma falta de respeito àqueles que confiaram no blog e na editora. É decepcionante. No mínimo, deveria haver maior preocupação em comunicar o que aconteceu e o que está acontecendo. Estou postando isso para, além de expressar minha indignação, dar uma satisfação aos amigos que compartilharam comigo a felicidadade de uma primeira publicação.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

[Livro] O discurso do Rei, de Mark Logue e Peter Conradi

Tive o cuidado de ler o livro antes de ver o filme. Em obras como esta, para se ter uma análise isenta, creio que seja bom ter esse cuidado.

A verdade é que "O discurso do rei" é uma obra que se mostra despretensiosa. Em termos de literatura, não acrescenta nada, e nem acho que a intenção tenha sido essa. Sem dúvida alguma, podemos considerá-lo como um livro "oportunista", buscando lucros através da evidência que o filme deu ao assunto.

Em resumo, o livro trata das dificuldades de fala, principalmente a gagueira, do futuro rei britânico Gerge VI. Considerando que, em especial após ser alçado ao trono, um de seus principais papéis era fazer discursos e pronunciamentos, teve a ajuda de um terapeuta da fala que acabou virando seu amigo particular.

Mas, independente da questão da qualidade literária e dos fins comerciais, sua leitura é agradável e bastante simples. Para leitores que apreciam fatos e personagens históricos, acaba sendo bastante interessante. Algumas passagens sobre a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, são bastante curiosas e originais mesmo para alguém que, como eu, já leu bastante sobre o tema.

É um livro curto, leitura leve e, como já comentado, sem muitas pretensões. Para quem gosta do assunto, acaba sendo um programa divertido.

quarta-feira, novembro 16, 2011

Esforço extra

Um dos principais desafios enfrentados no gerenciamento de equipes de TI é o cumprimento dos prazos acordados com os clientes (sejam eles internos ou externos), especialmente quando metodologias ágeis são utilizadas, com entregas em curtos períodos de tempo. Qualquer situação atípica ou inesperada pode colocar tudo a perder.

Os desenvolvedores, como qualquer ser humano (apesar de alguns não parecerem ser), estão sujeitos a ficarem doentes, terem problemas pessoais ou não renderem adequadamente. Indefinições ou mudanças de requisitos, apesar de totalmente indesejáveis, podem surgir durante o processo de desenvolvimento. Isso sem contar as dificuldades técnicas não esperadas, fazendo com que uma atividade que deveria consumir um dia se estenda por três ou quatro.

Diante de um cenário tão caótico, não é incomum estarmos há alguns dias de realizar a entrega ao cliente e a situação se mostrar um tanto quanto preocupante. Nesses momentos, é importante tomar decisões. É possível negociar com o cliente a data de entrega? Em alguns casos sim. Na grande maioria deles, é inviável ou muito desgastante. Surge então o grande vilão das equipes de desenvolvimento: o famigerado "esforço extra".

Atualmente, grande parte dos profissionais de TI trabalham no esquema conhecido como "PJ", ou seja, não são funcionários da empresa. Como quase tudo nessa vida, há vantagens e desvantagens para ambos os lados. O profissional, nesta situação, emite uma nota fiscal à empresa cobrando pelas horas que ele trabalhou em um determinado período. No caso do "esforço extra", poderia até ser vantagem para o profissional trabalhar mais horas, porque ganharia mais. Mas nem sempre a situação é tão simples.

A empresa, que recebe de seu cliente para realizar um determinado trabalho não pode simplesmente começar a pagar mais para seus desenvolvedores, sob pena de reduzir sua margem de lucro. O cliente, naturalmente, também não vai querer pagar a diferença. O desenvolvedor, que em alguns casos pode até parecer mas não é bobo, dificilmente irá querer trabalhar de graça. A situação para os profissionais que trabalham sob o regime da CLT varia um pouco, mas acabam tendo situações semelhantes. Como viabilizar então o "esforço extra"?

Existem duas formas conduzir essa negociação. A primeira e mais simples, consiste em reunir a equipe e esbravejar: "É o seguinte: temos que entregar isso na próxima segunda-feira, sem falta. Não há negociação possível com o cliente. Resolvam. Vocês devem se virar para fazer as coisas acontecerem. Ah, um detalhe: não tenho como autorizar horas extras porque o contrato não permite." Essa abordagem funciona? Algumas vezes sim. Alguns desenvolvedores ficarão com receio de serem demitidos ou mau vistos pela empresa e realizarão o trabalho necessário.

Uma segunda forma de resolver essa difícil equação é o gerente primeiramente reconhecer que a situação não foi gerada exclusivamente por culpa da equipe. Fatores externos podem ter influenciado decisivamente. Deve então reunir a equipe, expor a situação e quais os impactos ruins que a não entrega poderia causar para a empresa, para o projeto e para eles próprios. Deve deixar claro que somente eles podem mudar a situação, dando ênfase à importância que cada um tem na finalização do trabalho. Deve também ser sincero o suficiente para declarar que talvez as horas adicionais não serão pagas, mas que poderá haver compensação delas em folgas. Tudo isso sem qualquer tom ameaçador ou de tragédia.

Como eu comentei anteriormente, a primeira abordagem pode e deve funcionar em várias situações. Deverá funcionar, entretanto, somente nas primeiras vezes que acontecer. Chegará um momento em que os desenvolvedores, os melhores principalmente, começarão a procurar outra empresa para trabalhar. Utilizando a segunda forma, por outro lado, o gerente e a própria empresa reconhecerá de forma sincera as causas do problema, será claro ao posicionar sobre a importância de realizar a entrega na data acordada e manterá uma postura positiva e de apoio aos desenvolvedores. Deve também propor a discussão posterior das causas, de forma a buscar maneiras de evitar a sobrecarga de trabalho. Se a equipe é realmente profissional e comprometida, a chance de realizarem o esforço adicional é grande.

Existe infelizmente, principalmente na área de TI, uma cultura de ver de forma muito natural cargas horárias muito acima do considerado ideal, trabalhos de madrugada e finais de semana. Obviamente que algumas situações exigem e o profissional deve estar consciente disso. Mas, na minha opinião, situações como essa devem ser a exceção e não a regra. É muito importante aprender com os erros e realizar de forma efetiva alterações para que situações de estresse não se repitam continuamente.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Forme um sucessor ... e um sucessor para seu sucessor.

Vamos imaginar dois cenários:

A) Um gerente tirou 7 dias de férias e durante esse período foi contactado pelo celular inúmeras vezes para resolver problemas e dar direcionamentos à equipe que ficou na empresa. Alguns meses depois, recebeu uma excelente proposta profissional e decidiu trocar de emprego. A empresa sabia que não podia perdê-lo, fez contrapropostas e dificultou a sua demissão. Nas semanas seguintes à sua saída a empresa quase parou, precisou retornar à noite e nos finais de semana até que os remanescentes conseguissem "tocar o barco" sozinhos.

B) Um gerente tirou 20 dias de férias e durante esse período precisou responder dois emails com algumas dúvidas da equipe que ficou na empresa. Alguns meses depois, recebeu uma excelente proposta profissional e decidiu trocar de emprego. A empresa entendeu suas novas aspirações e não criou empecilhos. Nas semanas seguintes à sua saída a empresa continuou suas atividades normalmente. A equipe remanescente conseguiu, mesmo que com alguma dificuldade inicial, "tocar o barco" sozinha.

Baseado apenas no texto acima, qual dos dois gerentes você afirmaria que é melhor profissional, que agregou mais valor à empresa que trabalhou? Aquele que pouco se precisou dele durante as férias e após a sua saída ou o outro do qual a empresa precisou a todo o momento?

Muitos poderiam afirmar que o melhor profissional é o gerente do cenário A. É visível a sua importância para a empresa, para o negócio como um todo. Isso mostra o seu conhecimento dos processos, a confiança que a diretoria tem nele e também a dependência criada por sua equipe. Já o outro ... ninguém precisou dele durante sua ausência. Seria totalmente dispensável para a empresa, facilmente substituído por outro. Teria contribuído pouco com o seu trabalho.

Eu afirmo, com toda a convicção, o contrário. Soube delegar. Dividiu as informações com sua equipe e com seus colegas de trabalho. Tornou o processo e a empresa independentes de sua pessoa, de sua presença. Colaborou com seu trabalho, sua experiência, seu conhecimento e, quando achou que deveria seguir novos caminhos, recebeu a gratidão de seus superiores, conscientes de que merecia buscar algo ainda melhor para sua carreira.

Muitos podem pensar que o profissionais do tipo B, por mais competentes que possam ser, correm mais risco de serem demitidos. Isso é uma verdade relativa. Caso o tipo B trabalhe em uma empresa que saiba reconhecer suas qualidades, que não queira ficar refém de uma determinada pessoa, o risco de ser demitido é baixíssimo. Será extremamente valorizado. Por outro lado, se trabalhar em um local que valoriza somente resultados de curto prazo, que acham que os funcionários que pedem demissão são "traíras", que nunca encontrarão outro lugar melhor, realmente correrá um grande risco de ser demitido. Sorte dele!

O recado é que bons profissionais não devem ter medo de se tornarem dispensáveis. Antes que isso aconteça aparecerá coisa melhor. Além disso, é de suma importância formar um sucessor. Aquele braço direito, que poderá substitui-lo quando sair da empresa, quando ficar doente ou até mesmo para poder gozar de umas merecidas férias. Forme também um sucessor para seu sucessor. A empresa lhe ficará grata por muito tempo.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Você é insubstituível, seu trabalho não!

Quantas vezes você já ouviu alguém dizer "você é insubstituível"? Quando o contexto da frase refere-se ao ambiente profissional, geralmente ela é usada para dizer que uma determinada pessoa é extremamente importante para a empresa onde atua. Muitas vezes deseja-se dizer que a empresa não é nada sem aquela pessoa, que se um dia ela for buscar novos ares as coisas não seguirão bem por aqueles lados.

Muitos criticam pensamentos como esse, argumentando que poucas empresas fecharão suas portas pelo simples fato de que um profissional, por mais importante que seja, vá trabalhar em outro lugar. Estes diriam "ninguém é insubstituível". Eu, particularmente, sou partidário da primeira abordagem. Eu realmente acredito que todos são insubstituíveis. Mas cabe aqui uma explicação e principalmente uma reflexão.

Quando digo, por exemplo, que ninguém poderia me substituir em meu emprego atual, não estou me supervalorizando nem tão pouco me achando um profissional acima dos outros. O que quero dizer é que ninguém é igual a ninguém, de modo que nenhuma pessoa no mundo faria o meu trabalho da maneira como eu faço. Eu tenho meu jeito de falar com os subordinados e também com os superiores. Tenho minha forma de enxergar as coisas, de atacar um problema, de organizar uma reunião. Muitos poderiam fazer tudo isso melhor do que eu. E pior também. Mas igual, nunca! Nesse sentido, definitivamente é natural afirmar, com toda a convicção: eu sou insubstituível.

Entretanto, muitas vezes essa insubstitualidade (será que existe essa palavra?) é vista de forma enganosa, no sentido de que realmente uma empresa passaria maus bocados quando perdesse um funcionário. É claro que, sem dúvida alguma, existem profissionais que são de extrema importância para as empresas onde trabalham, seja pela capacidade técnica e humana ou mesmo pelo conhecimento que tem de como as coisas funcionam. Mas, salvo raras exceções, por mais que a empresa sinta a falta de alguém que por lá esteve durante muito tempo, dificilmente ela irá à falência por causa disso. Da mesma forma que pessoas se adaptam diante das adversidades, empresas também o fazem. E eu diria mais, mudanças muitas vezes são benéficas e essenciais, à despeito de uma dificuldade inicial. É através delas que novos talentos surgem, novas ideias se desenvolvem, os pensamentos e atitudes se renovam.

Todos devemos nos preparar para que, mesmo fazendo um excelente trabalho, algum dia possamos ser substituídos por alguém que mesmo não fazendo melhor, fará diferente. E, depois de algum tempo, poucos sentirão falta do nosso trabalho. Mas muitos continuarão, por muito tempo, sentindo a falta da maneira como fazíamos este trabalho.

sexta-feira, junho 24, 2011

[Livro] Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

Eu sempre tive dificuldade em responder a pergunta: Qual é o melhor livro que você já leu? Não tenho mais, posso afirmar com toda a certeza que Orgulho e Preconceito foi o melhor livro que já li.

Escrito no século XVIII e retratando a sociedade inglesa daquela época, o livro é um dos maiores clássicos da literatura mundial. A história principal gira em torno de uma família focada em arrumar casamento para suas filhas. Com personagens curiosos e inteligentes, Austen nos permite conhecer como funcionavam as relações pessoais naquele século. É curiosíssimo e delicioso ver como as coisas e preocupações mudaram no decorrer do tempo. Sem televisão, internet e outras modernidades, as pessoas usavam seu tempo em atividades hoje infelizmente esquecidas e desvalorizadas. Passavam longas horas simplesmente conversando, ouvindo e tocando música, organizando e participando de bailes, apreciando a natureza e refletindo sobre a vida.

Nunca apreciei o estilo de escrita baseado em muitos diálogos. Também acho enfadonho excessivas descrições de ambientes e de pessoas, recurso que muitos autores usam para substituir a falta de talento e para fazer o romance render mais páginas. Orgulho e Preconceito me fez refletir e reforçar minhas opiniões sobre estes dois pontos, embora sob diferentes aspectos. A qualidade e riqueza dos diálogos escritos por Austen são arrebatadores. Sem perceber acabamos imersos pelo vocabulário rico, palavras bem escolhidas e a detalhada análise humana e social existente. A profundidade psicológica das personagens Elizabeth e Mr. Darcy enriquecem de forma ímpar a cultura de quem lê este romance.

Existem clássicos da literatura que leio apenas para conhecê-los, para ter contato com algum estilo ou autor renomado. Não vejo a hora de terminá-los pois muitas vezes não há prazer na leitura. Com Orgulho e Preconceito não tive esse problema. Mesmo ciente de que se tratava de uma obra reconhecida através dos tempos, acabei tão empolgado e motivado com tudo que não dava vontade de parar. O texto, apesar do riquíssimo vocabulário, não é difícil, plenamente viável a todas as categorias de leitores. Se ainda não leu, não perca mais tempo.

quarta-feira, maio 25, 2011

[Livro] Escolher ou Ser Escolhido?, de Marcelo Jabur

O que pensar de um livro que pretende dar dicas sobre opções de carreira mas que seja diminuto em tamanho, tenha pouquíssimas páginas, use letra grande e espaçamento duplo? Seria possível transmitir algo realmente importante, sério e útil desta forma?

O que Marcelo Jabur consegue em "Escolher ou ser escolhido" nada mais é do que repetir o óbvio, aquilo que todo bom profissional já ouviu falar e já leu em vários livros. Isso é ruim? Neste caso a resposta é não, muito pelo contrário. O maior mérito de Jabur é reunir em um único livro, de forma extremamente clara e fácil de entender, pontos importantes que todo mundo sabe, mas poucos efetivamente vivenciam.

São temas que todos nós precisamos constantemente reavivarmos em nossas vidas, para que não fiquem somente na teoria. Quem não sabe que toda e qualquer atitude que tomamos em nossa carreira vai refletir no futuro? Quem não sabe que o sucesso ou o fracasso não são frutos de uma única decisão e sim da somatória de todas elas? Que devemos conhecer os anseios particulares de cada membro da equipe? Todos sabem, mas poucos realmente agem desta forma no dia-a-dia.

É nesse sentido que "Escolher ou ser escolhido" se mostra útil; naquele momento em que falta motivação, falta um direcionamento, falta saber o que pode estar errado, um rápido insight pode nos trazer de volta à realidade e à consciência de que, mais do ninguém, somos nós mesmos os responsáveis por nossa carreira.

43 minutos do segundo tempo ...

Gostaria de solicitar aos leitores desse blog e àqueles que acabam chegando aqui por acaso, um momento de "licença poética".

Desta vez não vou falar sobre liderança, sobre livros, sobre contos. Vou falar sobre uma das minhas maiores paixões, o Flamengo. É até repetitivo eu dizer aqui que somente quem torce pra este time sabe o que é ser rubro-negro. Mesmo porque eu nunca fui e nunca serei outra coisa, fato que me impedirá de saber a diferença. Não é um simples time de futebol, é uma "religião".

O fato que me motivou a escrever sobre o grande poderoso Mengão é que no próximo dia 27 de maio serão completados 10 anos do segundo jogo da final do Campeonato Carioca de 2001. Este jogo, que acabou coroando o time rubro-negro como Tricampeão Carioca (1999-2000-2001), tem um lance antológico.

Eu, morador de Ribeirão Preto/SP, vivia naquele domingo de 2001 uma outra situação interesssante. O Botafogo local jogava a segunda partida da final do Campeonato Paulista com o Corinthians. Havia perdido o primeiro jogo, em casa por 4x0, e era praticamente impossível reverter a situação jogando no Pacaembu. Mas a parte botafoguense da cidade estava orgulhosíssima, como não poderia deixar de ser.

No Rio de Janeiro, o Flamengo havia perdido o primeiro jogo da decisão por 2x1 para o Vasco. Não bastaria vencer o segundo jogo pelo mesmo placar porque o time cruzmaltino tinha a vantagem. Era necessário vencer por dois ou mais gols de diferença. Eu havia almoçado na casa de minha sogra, em uma cidade próxima à Ribeirão. Voltando para casa, na estrada, consegui sintonizar uma estação de rádio que transmitia direto do Rio. O Flamengo vencia por 2x1, placar insuficiente para suas pretensões.

Cheguei em casa, liguei rapidamente a TV, que mostrava a festa do título do Corinthians em São Paulo. Já estavam com a taça na mão. Meu raciocínio óbvio é que o jogo do Rio também já havia terminado, afinal deveriam ter começado no mesmo horário. Foi quando, olhando pra TV vi aquela bolinha das transmissões da Globo, indicando que saiu gol em outro jogo. O narrador de Corinthians x Botafogo-SP dá uma pausa, e diz algo semelhante a isso: "No RJ, Petkovic faz o terceiro do Flamengo".

Muitos se perguntam porque o rubro-negro dá tanta importância a este gol. Não era final de Campeonato Brasileiro, Libertadores ou Mundial. Em relação ao título em si, apenas mais um Campeonato Carioca, título que o Flamengo tem cansado de ganhar. A questão é que realmente há algo diferente com aquele gol.

O time havia perdido o primeiro jogo. O jogo era contra o Vasco. O técnico do Flamengo era ninguém menos que Mário Jorge Lobo Zagallo. Pet era (ainda é e sempre será) ídolo. Camisa 10 nas costas, nem preciso dizer quem já usou. Local falta relativamente longe do gol. Cobrança perfeita. Curva impressionante. (Bom) Goleiro do Vasco pula muito bem. Não consegue alcançá-la (nenhum goleiro do mundo conseguiria). Gol aos 43 minutos do segundo tempo.

Talvez seja difícil explicar e ainda mais complicado fazer os (poucos) não rubro-negros sentirem esse momento da forma adequada. Não custa tentar. Postarei abaixo alguns vídeos sobre esse lance. Quem não for flamenguista pode assistir, mas somente se não tiver receio de virar a casaca depois.

Narração de Luis Penido, da Rádio Tupi (as imagens não são boas, mas a emoção é fantástica)



Transmissão da Globo



Reportagem da Globo sobre o jogo



Documentário do GLOBOESPORTE.COM sobre este momento épico

http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2011/05/documentario-exclusivo-lembra-os-dez-anos-do-gol-historico-de-petkovic.html

terça-feira, maio 17, 2011

Escolher ou Ser Escolhido?

Participei ontem, na livraria FNAC do Ribeirão Shopping, do lançamento do livro "Escolher ou Ser Escolhido? Qual é a opção para a sua carreira?", do coach executivo Marcelo Jabur.

Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Marcelo em um curso de liderança que fiz em sua empresa Instrumenta, onde pude aprender bastante e começar a admirar o trabalho deste grande profissional. Demonstrando grande conhecimento e segurança no que fala, Marcelo é capaz de transmitir suas ideias e convicções de forma leve e natural, mostrando-se um profissional com grande empatia.

Na noite de ontem, após ouvir uma breve palestra, tive a honra de ter um exemplar de seu livro autografado, oportunidade em que pudemos nos rever e trocar algumas ideias rápidas. Ainda não li a obra, o que farei nos próximos dias. Mas, sem medo de errar, já indico-a a todos que gostam do tema. Logo que finalizar, postarei aqui uma resenha.

Para maiores informações sobre seu trabalho, acessem o site pessoal de Marcelo Jabur.

Já fiz a inclusão do livro no site Skoob, acessem !

sexta-feira, maio 13, 2011

[Livro] Canalha, substantivo feminino, de Martha Mendonça

Sabe aqueles livros gostosos, fáceis de ler, com poucas páginas, fonte grande e espaçamento entrelinhas confortável? São perfeitos para aqueles períodos da vida em que precisamos de ler algo leve, que não exija um dicionário ao lado. Um livro pra divertir.

É exatamente isso que "Canalha, substantivo feminino" consegue: divertir. Acredito, inclusive, que esse foi o objetivo da autora. E é com essa escrita despretensiosa que Martha Mendonça nos conta a história de seis mulheres, de idades variadas, unidas por uma característica historicamente associada aos homens: a canalhice.

Nada mais atual; como me disse um amigo dia destes, hoje em dia está mais difícil encontrar uma mulher que preste do que um homem decente. As mulheres conquistaram seu devido espaço no mundo e uma vez menos dependentes da proteção de pais, namorados e maridos, se dão a chance de exercerem seu lado sacana nas relações afetivas.

Os contos são de tamanho médio, mas de leitura rápida. Excelente livro para ter à mão, lendo um conto a cada intervalo que a vida nos dá.

Naturalmente as mulheres vão gostar um pouco mais das histórias. Mas homens bem humorados e seguros de si mesmo irão se deliciar. Afinal, apesar de muitos não admitirem, os homens gostam mesmo é das mulheres interessantes e sacanas, no bom sentido, é claro.

[Livro] Boa Ventura!, de Lucas Figueiredo

Lembro-me de uma brincadeira da época do colégio em que falávamos que a caravela de Cabral deveria ter afundado no meio do Atlântico para que os britânicos tivessem descoberto o Brasil; pelo menos não precisaríamos ter aulas de Inglês. Ou pelo menos a Espanha; não seríamos os únicos a falar a língua de Camões em nosso continente.

Mas não teve jeito. Foram mesmo os portugueses que descobriram o Brasil. E depois de ler este livro, posso dizer com toda a certeza: infelizmente foram eles.

Nada contra, obviamente, nossos queridos irmãos lusitanos. Nada contra principalmente os portugueses de hoje em dia, que porventura podem ler o que estou escrevendo aqui e se sentirem ofendidos. Definitivamente não é o meu objetivo. Mas uma verdade não pode ser negada: Portugal conseguiu desperdiçar uma das maiores riquezas da história da humanidade, jogando no lixo um futuro promissor tanto para sua própria pátria quanto para o nosso querido Brasil baronil.

Lucas Figueiredo fez um trabalho primoroso. Seu livro é extremamente bem documentado, com referências bibliográficas a cada capítulo! Possui também fotos incríveis e mapas de época interessantíssimos. Trata-se de uma obra deliciosa para aqueles que, como eu, acreditam que não é possível entender o presente e planejar o futuro sem conhecer o passado. O bom é que Lucas conseguiu repetir o feito de outros autores de livros históricos recentes: escreveu de forma incisiva, baseado em um monte de dados mas sem se tornar chato e monotóno. Quem dera todos os livros didáticos de História do Brasil fossem assim.

A realeza portuguesa apostou tudo na descoberta de ouro no Brasil. Na época, o país atravessava uma situação financeira não das melhores. Precisava povoar a colônia rapidamente, sob pena de que os espanhóis o fizessem antes. Com população reduzida, mandaram aos trópicos o que tinham de pior: ladrões, criminosos e aventureiros sem nada a perder. Depois de muito tempo sem nenhum retorno, aos poucos a riqueza do solo brasileiro aflorou, permitindo aos nobres e reis portugueses viverem décadas de vida boa, desperdício e ignorância financeira. Enquanto os ingleses investiam sua riqueza de forma planejada e inteligente, os lusitanos gastavam com festas e inúteis tentativas de se mostrarem à altura cultural de seus vizinhos.

"Boa Ventura!" vale cada página lida. E fica difícil disfarçar a decepção ao terminar a leitura, decepção ao ver que poderíamos ser um país muito mais rico e evoluído. O que não dá pra fazer é jogar a culpa nos portugueses, eles têm mais consciência disso do que nós mesmos.

quinta-feira, maio 12, 2011

Apoio à fundação Dorina Nowill: por livros acessíveis aos cegos

Segundo o próprio site, a fundação Dorina Nowill:

Há mais de seis décadas, a Fundação Dorina tem se dedicado à inclusão social das pessoas com deficiência visual, por meio da produção e distribuição gratuita de livros braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para pessoas com deficiência visual e para mais de 1.400 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil. A Fundação Dorina Nowill para Cegos também oferece, gratuitamente, programas de serviços especializados à pessoa com deficiência visual e sua família, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade.

A instituição produziu ainda mais de 1.600 obras em áudio e cerca de outros 900 títulos digitais acessíveis. Além disto, mais de 17.000 pessoas foram atendidas nos serviços de clínica de visão subnormal, reabilitação e educação especial.

Sinto que uma iniciativa como essa merece o apoio deste blog e de toda a comunidade leitora/blogueira de que ele faz parte.

Descubra se a Fundação Dorina Nowill está em sua cidade: direta ou indiretamente, a fundação está em TODOS os estados brasileiros.

Faça uma doação

sexta-feira, maio 06, 2011

Os 10 mandamentos do leitor

Retirado do blog Livros só mudam pessoas

Publicado originalmente por Alberto Mussa, no Entre Livros

I – Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II – Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III – Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV – Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V – Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.

VI – Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII – Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII – Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX – A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X – Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.

Blogagem Coletiva: Qual livro indica e qual não indica?

O blog Devaneios e Desvarios propôs mais uma blogagem coletiva:

1) Que livro você mais gostou de ler, que marcou sua vida, e que você recomendaria enfaticamente aos seus amigos?

Eu gostaria de citar não um livro e sim uma autora: Agatha Christie. Ela foi responsável pela minha descoberta da literatura de entretenimento, aquela em que lemos porque gostamos e sentimos prazer e não porque somos obrigados. Obviamente que alguns livros são melhores que outros mas de uma forma geral todos que já li são excelentes, empolgantes e deliciosos. Quem nunca leu e quiser começar, indico "Assassinato no Expresso do Oriente".

2) Por outro lado, há algum livro que você se arrependeu de ter lido, do qual desaconselharia a leitura?

Eu costumo analisar bem um livro antes de comprá-lo e iniciar a leitura. Na grande maioria das vezes me baseio em resenhas de autores que respeito e informações de outros leitores. Isso diminui em muito a chance de errar. De qualquer maneira, tem dois livros que merecem meu comentário. Um deles é "Inteligência na guerra", de John Keegan. Eu gosto muito do assunto, fiz um esforço pra ler mas não consegui nem terminar. Muito chato e mal escrito. O outro é "Macunaíma", de Mário de Andrade. Esse eu fui obrigado a ler na época de colégio e simplesmente odiei.

quinta-feira, abril 28, 2011

Escrever contos, por Miguel Sanches Neto

Escrever contos
muito pouco te a ver
com contar casos
que ouvimos na rua,
soubemos por amigos,
jornais ou pela tevê.
Um conto é um corte
na pele fina do hoje
e ele sangra tanto
que, para estancá-lo,
resta-nos o manto
de termos cotidianos.

Não escreva contos
para fazer graça.
Só admita a piada
quando for amarga.
A tristeza do tempo
que nunca pára,
mesmo o amor maior
nos espeta o peito
com sua pior farpa.
Conto repele risadas.
Isso é para a crônica
que ajuda a digerir
as comidas pesadas.

Apenas escreva contos
em estados de fúria,
com um ódio santo
contra toda a turba.
Um conto necessário
é um ato de cura,
uma catarse em meio
à insanidade de tudo.
Escreva contos para
emudecer esse mundo
tomado pela usura.

Não escreva contos
como quem brinca
com palavras móveis,
incrustáveis nas frases.
Conto já nasce pronto.
Todo esforço vem antes,
ao se sofrer o corte
e sangrar até a morte.
Não é com palavras
que se faz um conto,
mas com sentimentos
imensos de desencontro,
entre o eu e o mundo,
mesmo quando o mundo
é quem nós somos.

Tente escrever um conto
que te prepare um pouco
para te ver como morto.
Estar vivo é algo falso
porque breve em demasia.
Todo conto é um canto,
um canto de despedida.

Não escreva contos
com palavras eruditas.
Conto é linguagem viva,
a mesma usada no bar,
na hora do namoro,
no balcão da padaria.
Palavras do dia-a-dia,
que súbito se concentram
para dizer de uma vez algo
que ninguém mais diria.

Escreva os seus contos
como quem se suicida,
sem deixar bilhetes
dando os tais motivos.
Um conto não se explica.
É morte imprevisível,
a vida como enigma,
a força de um mistério
que não se silencia.

Só escreva os seus contos
quando não houver quando.

Fonte: http://herdandoumabiblioteca.blogspot.com/2010/09/escrever-contos.html

quarta-feira, abril 27, 2011

Quais as diferenças entre Artigo, Conto, Crônica e Ensaio?

É comum, até para leitores mais experientes, haver uma confusão sobre a classificação de um texto como artigo, conto, crônica ou ensaio. Eu mesmo, apesar de já ter lido muito à respeito, volto à essa questão frequentemente. Na tentativa de jogar um pouco mais de luz sobre o tema, segue abaixo um texto muito simples e eficiente publicado no site Recanto das Letras, de autoria de Obed de Faria Jr. Atente-se também à diferenciação feita pelo autor entre conto, novela e romance.

Existem espalhadas por aí diversas explicações teóricas – umas mais, outras menos – buscando diferenciar artigo, conto, crônica e ensaio. Por certo, não serei eu a refutar, de maneira categórica, tão abalizadas descrições e opiniões que existem a respeito disso.

O importante, creio eu, é notar que existem circunstâncias onde essas modalidades – ou sub-gêneros – de prosa, confundem-se entre si, até porque determinados hibridismos, vez por outra, são inevitáveis.

Não possuo nenhuma qualificação formal que me habilite a emitir conceitos de forma irrefutável, contudo, brinco de escrever faz umas três décadas e um tanto. E, obviamente, gosto de escrever porque adoro ler. Em função, tanto de uma coisa como de outra, acabei me aventurando a tentar entender um pouco sobre as técnicas da instigante arte da escrita. Se nada do que eu disser pode ser considerado como algo definitivo, talvez possa servir de referência a quem também se interesse e queira estudar um pouco mais.

Para que tudo não fique muuuuuuuuuuuuuuito teórico – porque isso é por demais chato, às vezes – tentarei falar sobre os assuntos da forma mais simples que me for possível.

CONCEITOS PRELIMINARES

Texto Dissertativo X Texto Narrativo

Dissertar é falar sobre algum tema de maneira explicativa. É dizer o quê, por que, onde, como, quando, em função de que e ou a fim de que. Não são necessários todos esses elementos, mas uma descrição para ser inteligível necessita, indispensavelmente, de algum tipo de articulação lógica que, enfim, explique algo ou especifique a seu respeito.

Narrar é expor uma trama, um enredo. Dizer sobre alguém passando por algo na vida – ou fora dela, hehehe - sozinho ou com mais alguém, pensando com seus botões ou interagindo com outros. Só que pressupõe a existência de uma história a ser contada.

Texto Ficcional X Texto Não Ficcional

Ficcional é aquilo que é fruto da imaginação, da inventividade. Não ficcional é aquilo que procura ser o mais fiel à realidade, quanto possível. Esses são dois extremos num espectro que admite vários matizes. Ou seja, raramente um texto é totalmente ficcional e, ainda, da mesma forma, raramente consegue ser totalmente fiel à realidade.

Quase tudo que se inventa é baseado em algo que já existe, existiu ou poderia existir – por mais fantasioso que possa ser. Mesmo um relato extremamente fantástico possui algum paralelo com a realidade, caso contrário, não haveria termo de comparação para que sua natureza fantástica se sobressaísse.

Por outro lado, por mais que se tente falar da realidade com total isenção, é inevitável que a percepção individual de quem esteja a relatar alguma coisa acabe imprimindo alguma subjetividade de natureza totalmente particular.

Por fim, existem aquelas criações que são, propositalmente, uma parte ficcional e outra parte nem tanto. O que prepondera mais ou menos é irrelevante, pois depende da intenção de quem criou.

Dito isso, passemos à análise das modalidades ou sub-gêneros de prosa, propriamente ditos.

CLASSIFICAÇÃO DE TEXTOS EM PROSA

Não pretendo aqui enfrentar a árdua tarefa de analisar as classificações literárias dos textos. Isso demandaria um compêndio – que eu não tenho a menor condição de esboçar – e, ainda, enveredaria por conceitos teóricos que vêm de tempos imemoriais.

Basicamente, o enfoque que parece interessante, neste ensejo, é simplesmente dizer que os gêneros literários – DENTRE OUTRAS CLASSIFICAÇÕES – “podem” ser divididos em prosa ou poesia. Mesmo entre esses dois gêneros, há momentos em que ambos se confundem, existindo a chamada prosa poética ou poesia feita de concatenações em prosa.

Para simplificar, prefiro pensar que um texto é tanto mais “prosa” quanto menos seja “poesia”; e vice e versa. Poesia é manifestação cheia de emoção, lirismo ou, mesmo, mero exercício lúdico com as palavras. As figuras que atribuem a um texto a condição de ser poético ou não são tão variadas e dependem tanto do gosto ou da opinião de quem lê, que só isso já seria motivo para se falar e falar pela eternidade e mais dois dias.

De qualquer maneira, o que vem a ser poesia, se não estiver explícito na conformação do próprio texto composto em versos, ou pelas figuras que utilize, é algo bastante intuitivo para a maioria das pessoas.

Portanto, prosa é o que não é poesia – mas nada impede que aquela tenha um pouquinho desta; até porque esta é sempre uma variante daquela. (Agora, eu viajei!!! kkk)

Sem pretender esgotar as inúmeras hipóteses possíveis, vamos diretamente ao cerne do que se pretende por aqui.

Artigo

Artigo é um texto dissertativo e de cunho não ficcional. É um relato sobre fatos, pessoas ou circunstâncias existentes na realidade concreta e sobre os quais se pretenda descrever aspectos tidos por relevantes ou, ainda, fundamentar alguma opinião.

Representa uma articulação que toma realidades próximas ou remotas, no tempo e ou no espaço, como base que dá ensejo e teor ao texto. O articulista não precisa necessariamente ter contato direto com os fatos e circunstâncias sobre os quais se proponha a falar, podendo valer-se – e quase sempre o faz – de informações e notícias que lhe cheguem ao conhecimento por relatos de outrem e ainda com base em pesquisas direcionadas especificamente para tal fim.

Crônica

Crônica é um texto narrativo e pode ser, em maior ou menor grau, de cunho ficcional. Versa sobre experiências, vivências ou pontos de vista pessoais do cronista. Pode tratar de relatos sobre fatos ocorridos em tempos distantes ou em momentos atuais e – por que não? – até divagações sobre o que esteja por acontecer. De qualquer forma, basicamente, são impressões essencialmente pessoais de quem escreve.

Ensaio

Ensaio é um texto dissertativo e essencialmente não ficcional. Não é um artigo, porque, por mais que parta de informações mais ou menos remotas com relação ao ensaista, busca fundamentar uma visão pessoal que ele tenha sobre algum tema. É uma divagação sobre algum tema não necessariamente pessoal, porém, imprimindo premissas, inferências e conclusões opinativas de quem o escreve. Tende a lidar com assuntos e interesses que remetam a um enfoque universalista – ou que assim se pretenda sejam encarados. É alguém expondo sua opinião pessoal sobre uma verdade que, a seu modo de ver, precisa ser apresentada a todos.

Conto

Conto é um texto narrativo e essencialmente ficcional. É uma trama que gira em torno de algum acontecimento ou circunstância, no mais das vezes não real, envolvendo um ou mais personagens.

Gosto de dizer que um conto é uma historinha. Fica tão mais fácil de entender. As piadas são bons exemplos de contos que se transmitem por tradição oral. Ou seja, todo mundo já ouviu ou já contou um conto.

O que diferencia um conto de uma novela ou um romance é a limitação em algum ou alguns de seus elementos. Ele pode ser curto ou longo, porém tende a não ser demasiadamente longo em função da própria limitação de seus demais aspectos. Ele costuma girar em torno de uma única trama, enquanto que os outros gêneros criam tramas paralelas que transcorrem em conjunto com a trama principal. Tende a ter poucos personagens – às vezes, um só – enquanto que os outros gêneros costumam ter um “elenco” bem maior, até para que as diversas tramas tenham lá seu próprio desenvolvimento.

HIBRIDISMO ENTRE AS MODALIDADES

Há textos que podem ser classificados tanto como artigos, quanto como crônicas. A descrição de fatos e circunstâncias que venha acompanhada de uma grande carga opinativa do articulista, acaba ganhando contornos que tendam a aproximar-se da crônica, na medida que as impressões pessoais tenham uma preponderância relevante.

Da mesma forma, há crônicas que se aproximam de artigos. Isso porque utilizam tanto de informações e fatos remotos ao cronista que, mesmo sendo seu intuito expor suas impressões essencialmente pessoais, a grande carga de elementos externos ou remotos à sua realidade acaba lhe conferindo contornos de um artigo.

Por outro lado, há crônicas que tangenciam assuntos tão universais e cujo trato pelo cronista seja tão profundo, que acabam se confundindo com um ensaio. Há textos, inclusive, em que fica difícil distinguir o que realmente sejam, nesse aspecto.

Também, há crônicas que são narrativas construídas de tal forma que acabam se configurando quase como contos. Talvez – penso eu, particularmente – nesses casos, tanto quanto mais ficcional seja a narrativa, tão mais seja um conto; e vice e versa. Porém, são fartos os exemplos onde contos do cotidiano e crônicas simplesmente se equivalem.

Portanto, há áreas "cinzentas" onde os hibridismos entre as modalidades ou sub-gêneros de prosa se confundem de tal forma que não é possível distingui-los como sendo esse ou aquele tipo.

EXEMPLOS CONCRETOS

Há alguns anos o Brasil passou por uma crise no fornecimento de energia elétrica que ficou conhecida como “apagão”. Aliás, estamos prestes a passar por outro logo, logo (apesar dos desmentidos governamentais).

A partir do tema “apagão”, a construção de textos poderia ser assim desenvolvida

Artigo sobre o “apagão”

Relataria sobre as fontes de energia elétrica no Brasil, suas dimensões e capacidades, distribuição nas diversas regiões, as soluções adotadas anos atrás, as circunstâncias atuais, as opiniões do governo, de especialistas na área, das empresas fornecedoras, dos consumidores e, também, uma conclusão do próprio articulista sobre os rumos desse problema num futuro próximo.

Crônica sobre o “apagão”

Narrativa sobre as agruras e percalços do cronista quando do racionamento de energia elétrica, apontando fatos e circunstâncias curiosos, engraçados ou comoventes que, a partir de uma circunstância particular possa provocar a identificação dos leitores.

Ensaio sobre o “apagão”

Dissertação relatando sobre a crise energética do planeta, em busca de soluções de fontes renováveis, abordando depredação do meio ambiente, desafios tecnológicos, a dependência inexorável da humanidade da energia elétrica e concluiria sobre os confrontos entre os limites éticos da exploração de recursos na busca de manter as conquistas de conforto do homem no século XXI e pelas gerações vindouras.

Conto sobre o “apagão”

A história de recém casados, totalmente apaixonados que, ao irem morar numa casa alugada, descobriram que as limitações impostas pelo racionamento iriam lhes obrigar a adaptarem suas rotinas. As pequenas disputas em torno das decisões sobre o que e como a energia elétrica seria usada vai deteriorando o relacionamento colocando-os em pé de guerra. O final... bem, daí já é outra história, né?

CONCLUSÃO

Nada disso esgota o assunto e, certamente, o intuito é de dar um enfoque que permita à reflexão dos interessados e os induza, caso assim queiram, a discordar, complementar ou simplesmente buscar um aprofundamento no estudo técnico na arte da escrita
Fonte: Obed de Faria Jr Site: obed.zip.net

quinta-feira, abril 21, 2011

Miguel Sanches Neto

Para minha surpresa e grande satisfação, o autor Miguel Sanches Neto (autor de Então você quer ser escritor?) está me seguindo no Twitter (o meu é @tarcmello) e postou minha resenha em seu blog Herdando uma Biblioteca.

Obrigado Miguel !

quinta-feira, abril 14, 2011

[Livro] Textos fundamentais, de Daniel Coleman (org.)

É possível que um livro que o leitor demorou mais de um ano para terminá-lo seja bom? Sim, é possível. Mas este, definitivamente, não é o caso de "Textos fundamentais".

Adquiri esse livro porque gosto de temas como gestão de pessoas, equipes, administração. Entendi bem a ideia proposta, disponibilizar resumos e análises curtas sobre os mais influentes livros de negócios de todos os tempos. Meu objetivo era conhecer, mesmo que superficialmente, a ideia de autores tão renomados para que, se me interessasse por algo, fizesse a leitura da obra em si.

É preciso fazer justiça que este não é um livro para ser lido em uma sentada, nem em duas, em três. Classifico-o como uma obra de referência, daquelas para se ter na mesa do escritório ou na estante e utilizá-la em pesquisas.

Mas a verdade tem que ser dita, o livro é ruim. A grande maioria dos livros analisados foi publicada há muitos anos atrás (muitos mesmo). Mas são estes os livros mais influentes, diriam os defensores. Concordo, mas poderia haver uma mescla maior com livros mais atuais. O mundo mudou, e não foi pouco. A tradução é simplesmente horrível! Algumas frases simplesmente não dizem nada. Outras ficam confusas, praticamente ilegíveis. Por fim, nas análises das obras a mesma coisa é dita várias vezes de forma igual ou muito semelhante. Enrolação pura.

"Textos fundamentais", na minha opinião, não serve nem para ocupar espaço na estante: é caríssimo e existem muitos outros livros tão ruins quanto ele, mas mais baratos e mais grossos.

quarta-feira, abril 13, 2011

O que leva você a comprar um livro?

O blog Livros e Afins está participando de um movimento chamado "blogagem coletiva". São várias perguntas referentes à leitura, sendo que a que mais me chamou a atenção até agora foi:

"O que leva você a comprar um livro?"

Minha resposta: Eu acredito que seja um conjunto de coisas que me faça tomar a decisão de comprar um livro. Leio bastante blogs literários e tenho a revista Veja como uma fonte de informações sobre bons livros. Considero principalmente o assunto mas me encanto com belas capas, com um material de qualidade. Para mim, não basta eu LER um bom livro, gosto de TER bons livros. Considero-me um egoísta literário, não troco meus livros. A minha estante, cada vez mais cheia, me encanta. Gosto de ver todos eles lá. Empresto somente aos amigos mais íntimos.

Responda você também !!!

segunda-feira, abril 11, 2011

[Livro] Então você quer ser escritor?, de Miguel Sanches Neto

Sou um apreciador de contos já há algum tempo. Talvez porque eu sonhe algum dia poder publicar os meus. Mas enquanto isso não acontece, os leio com dois objetivos: me divertir e aprender - plenamente atendidos nessa obra do paranaense Miguel Sanches Neto, bem conceituado no meio literário como crítico e autor.

Em uma resenha que fiz sobre um livro de contos de Tchecov, afirmei que os contos (em especial aqueles mais curtos) devem oferecer ao leitor um final que cause alguma surpresa, algo inesperado, que o faça pensar "eu realmente não tinha pensado nesse desfecho". Mas a literatura não define métodos, regras. É uma arte e, como tal, dá liberdade ao artista para fazer o que quiser. Se vai ficar bom, é outra história. Tchecov é um exemplo: seus contos tem finais melancólicos. São contos ruins? Claro que não, são ótimos. Mas continuo preferindo aqueles que me surpreendem. Sanches Neto consegue isso em vários dos contos deste livro, em especial nos excelentes "Sangue", "Animal nojento", "Redentor" e "Na minha idade", além do último, que dá nome ao livro, deliciosamente ousado e admirável.

Se existe um conselho que eu daria às pessoas que não curtem muito literatura mas que sentem-se culpadas por isso é começar lendo contos. São curtos, geralmente de leitura leve e agradável. Devem manter um bom livro de contos sempre à mão, para ler no banheiro, na cama antes de dormir, ou mesmo em uma viagem ou sala de espera de algum consultório médico. Mas tem que ser um livro bom, como este agradabilíssimo "Então você quer ser escritor?".

sexta-feira, abril 08, 2011

Como motivar um funcionário

Um dos assuntos que mais geram discussão, livros e artigos é a tentativa de responder a velha pergunta: como motivar os funcionários de uma empresa? Se existe tanta gente pensando sobre isso há anos é porque a resposta não é trivial.

Naturalmente, em se tratando de seres humanos, a forma de motivar um funcionário pode diferir totalmente daquela utilizada para fazer o mesmo com outro. O que é importante para um pode não ser para outro. Cada indivíduo tem sua vida particular, o modo como foi criado, sua formação acadêmica, suas características psíquicas, seus anseios e seus objetivos. Esse é o motivo pelo qual, vez por outra, ouvimos gestores dizendo que "mexer com gente não é facil".

Esse tema ressurgiu em meus pensamentos após ter lido um resumo do livro "The motivation to work", de Frederick Herzberg e outros. As ideias apresentadas pelos autores são fortemente fundamentadas na conhecidíssima hierarquia das necessidades de Maslow, mais conhecida como "pirâmide de Maslow" (quem fez MBA certamente já ouviu falar). Entretanto, pelo que pude perceber pelo resumo, não se trata de uma mera cópia. O que mais me agradou na obra de Herzberg, inclusive, foi a forma mais simples e objetiva que tratou o tema.

O pensamento principal do autor é o de que a motivação vem do interior da pessoa e não de uma política imposta pela empresa. Divide os fatores que influenciam a motivação em dois: higiêncios e motivacionais. Os primeiros abrangem necessidades básicas tais como condições de trabalho, benefícios e segurança. Os motivacionais englobam os fatores humanos: necessidade de realização, desenvolvimento pessoal, satisfação no trabalho e reconhecimento. O raciocínio mais interessante é o de que os fatores higiênicos, se atendidos, criam um ambiente propício para o funcionário buscar a motivação. Entretanto, a satisfação destes não necessariamente cria a verdade motivação. Ela só virá se houverem também os fatores motivacionais.

Herzberg fez uma distinção importante entre os fatores que causam infelicidade e aqueles que, efetivamente, contribuem para a satisfação no trabalho: "a inversão dos fatores que tornam as pessoas felizes não as torna infelizes". Em outras palavras, para tornar um funcionário satisfeito não basta eliminar a infelicidade dele. A ausência de infelicidade não necessariamente resulta em felicidade. Para termos uma motivação efetiva, a empresa tem que oferecer mais do que o básico fatores
higiênicos).

Tal discussão é bem pertinente nos tempos atuais em que, ainda, um grande número de empresas acredita que o funcionário deve sentir-se feliz simplesmente porque tem um bom salário pago em dia. Algumas nem isso fazem: nem um bom salário oferecem. E depois ainda reclamam do turnover alto e do baixo rendimento.

10 passos para ser escritor

Texto originalmente escrito por Charles Kiefer, em seu blog

1. Ninguém nasce escritor, torna-se escritor. E o que leva alguém a se transformar em escritor é a genética e a cultura. A primeira é destino, a segunda – é conquista. Para a primeira, ainda não temos solução. Para a segunda, basta a vontade, o desejo de ser. Como dizia Jean Paul Sartre, um ser humano será, acima de tudo, aquilo que tiver projetado ser.

2. Vontade sem ação é devaneio. Para de sonhar e age. Escrever é como nadar, como andar de bicicleta – é preciso movimentar os braços, movimentar as pernas. No caso da escrita, é preciso movimentar o cérebro.

3. O melhor exercício para o cérebro é a leitura. Além de nos transformar em escritores, a leitura é importante para a saúde, evita o Mal de Alzheimer.

4. Um escritor não precisa ser um lobo solitário, como pregava Hermann Hesse. Pode – e deve – freqüentar cursos acadêmicos, oficinas literárias. Aliás, hoje em dia, é aconselhável que pretendentes à escritura evitem o romantismo e as idéias feitas.

5. Desde o tempo de Platão e Aristóteles, só há dois tipos de escritores, os idealistas e os materialistas, e não há conciliação entre os dois. Há extraordinários escritores idealistas e péssimos escritores materialistas, e há extraordinários escritores materialistas e péssimos escritores idealistas.

6. Ser um escritor idealista ou materialista é só uma questão de ideologia, de visão de mundo. Evite, apenas, o panfletarismo, que é o uso servil das idéias. Não existe literatura isenta, politicamente. Na estrutura profunda de um texto, a ideologia sempre se manifesta. Na estrutura aparente, ou de superfície, o que importa é a técnica.

7. Só existem bons e maus escritores, no sentido técnico. O que são bons escritores – ainda não sabemos. O que são maus escritores nós o sabemos sobejamente.

8. São maus escritores aqueles que constroem histórias desconexas, de temas inexpressivos e estereotipados, em estilo adiposo, desajeitado, flácido, sem harmonia e sem sutileza, com cenas e situações inverossímeis, compostas com descrições desnecessárias e sem articulação com a narração, e arrematadas com diálogos artificiais e inúteis.

9. Todo escritor é um vir a ser. Acreditar-se pronto e acabado é o princípio da morte autoral. A obra prima pode ser a primeira, a décima segunda ou a última obra de um determinado autor. Quem assina a obra completa é a morte. Enquanto vivo, o escritor é um ser em construção. Por isso, o orgulho e a vaidade são extremamente perigosos. Quem sacraliza o próprio texto pode inventar uma nova religião, mas não uma grande literatura.

10. Um escritor somente é escritor quando menos é escritor, no instante mesmo em que tenta ser escritor e escreve. Na absoluta solidão de seu ofício, enquanto a mente elabora as frases e a mão corre para acompanhar-lhe o raciocínio, é escritor. Nesse espaço, entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí. Depois, já é o primeiro leitor, o primeiro crítico de si mesmo e não mais escritor.

Fonte: blog Livros só mudam pessoas

sexta-feira, março 04, 2011

[Livro] Madame Bovary, de Gustave Flaubert

Uma mulher sonhadora casa-se com um homem honesto e trabalhador mas que não consegue satisfazer os seus desejos. Ela então entrega-se aos prazeres e perigos do adultério sem que ele, envolto em sua imensa bondade e paixão pela mulher, sequer desconfie.

Esse enredo bem que poderia ser mais uma história da novela das oito mas é a trama principal desse romance muito famoso escrito pelo francês Gustave Flaubert, que teve problemas na época em função do assunto "ousado" e "vulgar" existente em seu livro.

Acredito que quase tudo que poderia ser falado sobre "Madame Bovary" já o foi, visto que a história atravessou séculos, sempre sendo sucesso de público e de crítica. A qualidade literária é inegável. Sem utilizar-se das técnicas atuais (de qualidade duvidosa) para prender o leitor, o autor dá à história um ritmo tranquilo Os personagens principais têm suas personalidades moldadas aos poucos, sem o excessivo uso de adjetivos que infelizmente tem se tornado comum aos autores mais novos.

Trata-se, sem dúvida, de um romance atemporal: as angústias, alegrias, tristezas, preoucações e desejos de Emma Bovary não diferem muito das mulheres atuais, principalmente aquelas que veem suas indivualidades anuladas por um casamento com a pessoa errada.

"Madame Bovary" é um clássico. Um leitor que se preze deveria, mais cedo ou mais tarde, apreciá-lo. Mesmo porque além de se deliciar com a técnica apurada do escritor e com o enredo agradável, irá se divertir ao ver em Emma atitudes semelhantes às de alguma vizinha, amiga ou ... amante.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

[Livro] Contos Húngaros, de Kosztolányi, Csáth, Karinthy e Krúdy

O que levaria um leitor a dedicar parte de seu precioso tempo à contos húngaros? Por que não contos de países mais "tradicionais", contos alemães, franceses, britânicos, americanos ou mesmo lusitanos? E, obviamente, por que não contos brasileiros? Mas não, essa resenha refere-se mesmo aos contos húngaros.

Conheci o livro através de uma indicação bem positiva da seção "Veja Recomenda", da revista Veja. Como se somente isso não bastasse, reparei pela foto da capa que tratava-se de uma publicação da editora Hedra. Meu primeiro contato com a Hedra foi através da obra "Feitiço de Amor e Outros Contos" (http://www.skoob.com.br/livro/55035-feitico-de-amor-e-outros-contos). Em formato "pocket book", a editora tem feito um trabalho de qualidade superior, tanto no que se refere ao material e acabamento mas ainda mais quando falamos das informações contidas nas introduções, além das traduções irretocáveis.

Contos Húngaros traz uma introdução riquíssima de Nelson Ascher. Ele, com muita propriedade, inicia afirmando que o tamanho ou riqueza de uma nação não necessariamente tem relação com a qualidade de sua literatura. Apresenta ao leitor, de forma breve mas não superficial, um pouco da história e da cultura desse país situado na Europa Central. Na sequência discorre sobre os autores que fazem parte da coletânea: Kosztolányi, Csáth, Karinthy e Krúdy.

O estilo literário dos escritores varia, indo do humor ao realismo mágico. São textos bem escritos, que prendem o leitor. A qualidade é exacerbada pelo brilhante trabalho de tradução. A verdade é que os até então desconhecidos "contos húngaros" podem nos divertir e nos enriquecer culturalmente. E viva Budapeste!

sexta-feira, janeiro 21, 2011

[Livros] Os segredos da ficção, de Raimundo Carrero


Tomei conhecimento deste livro através de um blog literário que acesso periodicamente. Eu, além de ser um apaixonado pela leitura, sonho em algum dia publicar algo, além dos textos amadores que já postei em meu blog (http://pessoailtda.blogspot.com). Nas informações que obtive a respeito da obra, gostei do fato do autor não ter como objetivo ditar regras sobre como escrever bem. Isso é realmente impossível, considerando-se que a literatura é uma arte e como tal tem suas infinitas nuances, características e qualidades.

Seria possível alguém transformar-se em um escritor de qualidade lendo um livro como este? Acredito que não seria suficiente. Eu, particularmente, creio que um bom escritor já nasce com um dom. Obviamente que esse dom pode ou não ser estimulado e desenvolvido durante a infância, a adolescência e mesmo na idade adulta. Por outro lado, nenhum escritor é bom ou perfeito o bastante para não poder melhorar sua técnica.

A maior qualidade de "Os segredos da ficção" é não pretender ser um manual. Não há como definir padrões para um bom romance, um bom conto. O autor dá dicas, ensina técnicas e fornece um bom conhecimento teórico através de exemplos. E o resultado é realmente muito interessante.

Apesar de usar uma linguagem bastante acessível, em alguns pontos o que podemos chamar de teoria literária se mostra um tanto prolixa aos escritores amadores. Não vejo isso como uma falha. É até uma forma dos amadores sentirem-se motivados e curiosos a ponto de evoluírem seus estudos de técnicas literárias.

"Os segredos da ficção" não é um livro para ser lido uma única vez. Não há como decorar seus ensinamentos. Eles têm que ser absorvidos naturalmente. Diante disso, acredito que seja possível obter o máximo potencial de seu conteúdo através de duas, três ou até mais leituras, intercaladas com exercícios de escrita e consumo de outros livros.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

[Livro] Uma Breve História do Século XX, de Geoffrey Blainey

Talvez nunca tenha havido um outro momento em que os livros de História vendessem tanto quanto agora. Isso é fruto, sem dúvida alguma, da abordagem diferente que alguns autores passaram a dar ao assunto. Nada daquela decoreba chata de datas e nomes. Tornou-se possível ler sobre História como se estivéssemos lendo um romance.

"Uma Breve História do Século XX" segue esta linha. Os principais acontecimentos e personagens do século passado são abordados de maneira leve e interessante, dando um panorama muito rico sobre como os fatos aconteceram e de que forma eles ainda influenciam o mundo atual.

Apesar dessa leveza toda, creio que seja um livro para quem gosta de História. O fato de tratar os assuntos de forma resumida, exige do leitor um certo conhecimento prévio dos acontecimentos históricos, sob pena de parecerem fatos isolados e sem a devida importância.

A leitura é fácil e bastante rápida. Tenho convicção de que se as escolas passassem a adotar material didático nessa linha, teríamos muito mais crianças interessadas pela História, o que os tornariam adultos mais conscientes e engajados.

Estou lendo ...