quarta-feira, junho 23, 2010

Dicionário Analógico da Língua Portuguesa

Na edição 2169 da revista Veja, na seção "Veja Recomenda", me deparei com a indição de um dicionário curioso: DICIONÁRIO ANALÓGICO DA LÍNGUA PORTUGUESA. O que seria um dicionário analógico? Foi a primeira pergunta que fiz. No próprio texto da Veja já comecei a obter informações importantes ( http://veja.abril.com.br/160610/veja-recomenda.shtml ):

DICIONÁRIO ANALÓGICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo (Lexikon; 800 páginas; 69,90 reais)

 Nos dicionários convencionais, consulta-se uma palavra em busca de sua definição. O dicionário analógico oferece o caminho inverso: o consulente parte de um conceito (ou de uma vaga ideia) para chegar às palavras. Os verbetes oferecem verdadeiras nuvens de palavras que vão puxando uma a outra: a partir de "conselho", por exemplo, chega-se aos triviais "parecer, assessoria, consulta" e também aos mais remotos "parênese" e "temperilha". O leitor precisa adquirir um certo traquejo para manejar o dicionário. Mas, uma vez acostumado, descobrirá um instrumento indispensável, especialmente na hora de redigir um texto. O dicionário analógico – ou Thesaurus – é de uso corrente nos países de língua inglesa, popularizado desde o século XIX pelo lexicógrafo Peter Mark Roget. No Brasil, ao contrário, o dicionário de Francisco Azevedo (1875-1942), o único em sua categoria, foi publicado postumamente em 1950 – e só agora ganha uma segunda edição atualizada. Espera-se que não desapareça mais

Pesquisando o assunto na internet, encontrei dois artigos excelentes sobre o assunto, publicado no Jornal Zero Hora, pelo colunista Claudio Moreno ( http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2091334.xml&template=3916.dwt&edition=10394§ion=1029 e http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2121621.xml&template=3898.dwt&edition=10480§ion=1029):
 
O dicionário analógico


Enquanto meus amigos trocavam reminiscências sobre o futebol gaúcho da nossa infância, eu atiçava, distraído, o fogo da churrasqueira, esperando que a lenha se transformasse em brasa bem viva. Embora eu goste deste esporte, sinto um tédio mortal sempre que a conversa descamba para o terreno da tática e vira uma acalorada discussão sobre o aproveitamento de jogadores e esquemas alternativos. No fundo, aprecio um bom jogo assim como aprecio um bom livro, mas não tenho paciência para ficar ouvindo teses sobre um ou sobre o outro.

Desta vez, no entanto, acabou sobrando para mim: o tema eram os fardamentos de nossos clubes, com suas cores designadas por termos tradicionais da heráldica, como o alvinegro, o auricerúleo, o rubro-negro, e alguém lembrou o Grêmio Bagé, cujas cores – o amarelo e o preto – eram descritas também por um desses compostos de sabor parnasiano que ninguém ali da roda conseguia recordar. Perguntaram se eu conhecia; confessei que nunca tinha ouvido falar nisso, mas que, desde que ficassem cuidando o fogo, eu iria olhar no dicionário e logo os ajudaria a encontrar a resposta. Levei uma vaia. Como é que eu iria catar no dicionário uma palavra que eu nunca tinha visto ou ouvido? Em que letra eu ia começar a pesquisa? Como ia descobrir, dentre as duas mil e poucas páginas do Houaiss, aquela em que a desejada palavra se escondia? Pois é muito simples – para quem conhece o caminho. Este é o meu assunto de hoje.

Como qualquer bípede falante, eu tenho dois tipos de vocabulário: o ativo, que é composto pelas palavras que efetivamente consigo mobilizar na hora de falar ou escrever, e o passivo, muito mais extenso, que reúne também aquelas palavras que sou capaz de reconhecer quando as vejo empregadas por alguém. A passagem do passivo para o ativo é um processo de amadurecimento que inicia quando encontro uma palavra desconhecida. Na primeira vez não lhe dou muita atenção, mas encontros sucessivos começam a torná-la familiar; com o tempo, eu passo a reconhecê-la sempre que a vejo e já a saúdo com desenvoltura: ela acaba de entrar no meu vocabulário passivo e, dependendo da freqüência com que nos virmos, um dia vou me lembrar dela na hora em que estiver compondo uma frase – e pronto! Ela terá se tornado ativa.

Ora, enquanto uma palavra não migrar do estoque passivo para o ativo, ela pode provocar a mesma situação aflitiva em que se encontravam os meus parceiros de churrasco: eles sabiam que existia um termo exato para o que desejavam expressar, mas não conseguiam recuperá-lo na memória – o que tornava inútil, portanto, um dicionário comum, organizado em ordem alfabética. Como recuperar a palavra que fugiu? O processo de busca é o mesmo que usamos para telefones. Imagine, caro leitor, que você sofre de má-digestão e um amigo mencionou um especialista de mão-cheia, anotando o telefone do consultório num papelzinho – o qual, como era de esperar, você perdeu logo em seguida. Como o catálogo telefônico é inútil, já que você não lembra o nome do médico, a solução é recorrer às páginas amarelas, em que os profissionais estão agrupados por afinidade. Você vai na seção “Médicos” e ali localiza, reunidos numa lista, os gastroenterologistas. Pronto! Basta examinar rapidamente os cinqüenta nomes ali relacionados, e você vai encontrar – e reconhecer – o nome que tinha perdido.

No caso das palavras, quem faz as vezes das páginas amarelas é o dicionário analógico (ou ideológico). Nele, os vocábulos não estão relacionados em ordem alfabética, mas sim agrupados de acordo com o seu significado, seguindo uma classificação sugerida por Peter Roget, um cientista inglês do século 19 que fez para a linguagem o que Lineu fez para a Botânica: dividiu a realidade em várias categorias hierarquizadas e por elas distribuiu as palavras por afinidade. Em cada seção vêm registrados todos os vocábulos referentes ao mesmo campo semântico, agrupados em classes gramaticais (substantivos, adjetivos, verbos, advérbios). Uma vez localizada a categoria que nos interessa, basta ler a lista – como nas páginas amarelas – e vamos reconhecer a palavra perseguida. Foi fácil solucionar o caso do fardamento do Grêmio Bagé: abri o dicionário analógico na grande categoria das cores e fui direto à seção do amarelo. Como eu não conhecia a palavra, comecei a ler em voz alta todos os itens da relação até que – bingo! – todos saltaram quando cheguei a jalde (que, como averigüei mais tarde, é o esquisito nome que a heráldica usa para amarelo). Era a resposta: o Grêmio Bagé era tratado na crônica desportiva como “o jalde-negro” (cruzes!). Não preciso dizer que meu dicionário imediatamente se tornou o objeto da curiosidade (e da inveja) dos meus amigos, que queriam saber mais sobre ele. O resto eu conto depois.

Na coluna anterior, mostrei como funciona um dicionário analógico, utilíssima ferramenta que tem uma estrutura semelhante à das páginas amarelas da lista telefônica e nos permite recuperar aquele vocábulo preciso que costumamos esquecer bem na hora em que precisamos dele. Conhecendo o gosto e o interesse que meus leitores têm pelas palavras, tinha certeza de que não estava pregando aos peixes – e, com efeito, não foram poucos os que escreveram para perguntar onde poderiam adquirir esta novidade.

Fico constrangido em dizer que esta “novidade” já era conhecida na Antiguidade, quando Júlio Pólux, um estudioso de Alexandria, organizou, por volta de 180 D.C, o seu Onomasticon, um dicionário de palavras e expressões agrupadas por assunto. Na Idade Média e no Renascimento houve várias imitações sem maior importância, até que, em 1852, Peter Mark Roget, médico britânico, lançou o seu Tesouro de Palavras e Frases Inglesas, classificadas e distribuídas de modo a facilitar a Expressão das Idéias e auxiliar a Composição Literária, conhecido até hoje, no mundo anglo-saxão, pela primeira palavra de seu extenso título (em Inglês, Thesaurus). No prefácio à sua obra, que se tornou o modelo dos dicionários analógicos modernos, o bom doutor descreve com grande acuidade a frustração que sentimos quando, apesar de todo nosso esforço, a palavra que queríamos não atende ao nosso apelo: “Como os espíritos da vasta profundeza, ela não vem quando chamamos, e somos obrigados a empregar palavra ou expressão que ou é genérica demais, ou limitada demais, ou exagerada, ou insuficiente, ou que não se adapta à ocasião e que não acerta no alvo que tínhamos em mente” – a mesma situação que Mark Twain, sempre irreverente, comparou à decepção de um apaixonado que, em vez de se encontrar com sua amada, tem de se contentar com a prima dela.

Quase um século atrás, em 1936, a nossa Editora Globo publicou o primeiro dicionário deste tipo em Português, o Dicionário Analógico; Tesouro de Vocábulos e Frases da Língua Portuguesa, do padre Carlos Spitzer, alemão que veio para o Brasil ainda menino; na década de 50 saiu uma segunda edição, com várias tiragens, mas a obra, claramente inspirada pelo dicionário de Roget (até no título), acabou vendida ao desbarato nos caixotes da Feira do Livro de Porto Alegre. Em 1946 saiu em Portugal o Dicionário Analógico de Artur Bivar, que eu consultava, quando podia, na Biblioteca Central da UFRGS, mas que agora, depois de 15 anos de persistência, finalmente localizei num sebo de Minas Gerais. Mais recente e mais fácil de encontrar – e também mais completo – é o Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, do professor goiano Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, editado na década de 70 pela Editora Coordenada, de Brasília, com um número desconhecido de tiragens posteriores. Todos os três estão esgotados e parece não haver editor interessado em reimprimi-los – o que, aliás, é muito compreensível, já que o público leitor não vai procurar algo que nem sequer sabe que existe. Os felizes proprietários de um analógico, no entanto, não o emprestam, não o trocam e não o vendem por nada.

Na semana passada, tive novamente de recorrer a eles a fim de recuperar um vocábulo que me tinha escapado. Numa brincadeira com um amigo, imaginei uma cerimônia em que ele leria solenemente um conhecido poema gauchesco, enquanto um pequeno coral cantaria em surdina o Hino Rio-Grandense sem pronunciar as palavras da letra, isto é, apenas entoando a melodia com os lábios cerrados. Embora não seja um especialista no canto lírico, como meu prezado Luiz Osvaldo Leite, eu sabia que existe um termo específico que descreve este tipo de execução – mas quem disse que eu conseguia lembrar? Não hesitei em baixar da estante os três analógicos, sabendo que palavra alguma resistiria a tamanha artilharia combinada – e não deu outra! Enfiado entre monodiar, cantarolar, trautear, cantar a capella, modular, vocalizar, gargantear, gorjear, cantarinhar e cantorejar, lá estava o que eu buscava: cantar a boca chiusa, que os dicionários usuais definem como “cantar com a boca fechada, transferindo a ressonância para a região nasal”. Feliz com mais essa pequena vitória sobre o esquecimento, repus carinhosamente na estante os meus três fiéis mosqueteiros. Sou obrigado a reconhecer que, para mim, essa sensação de finalmente atinar com a palavra há tempos perdida – um misto de orgulho e alívio – é um dos maiores prazeres que encontro no meu trato contínuo com o dicionário.

Professor, doutor em Letras, cmoreno@terra.com.br

CLÁUDIO MORENO

Agora, cá estou eu com meu exemplar do DICIONÁRIO ANALÓGICO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Confesso que ainda um pouco perdido. Creio que com o tempo fique mais fácil buscar o que se deseja. Acredito que a editora poderia ter utilizado capa dura, mas isso não desmerece a iniciativa. Tenho certeza que será uma ferramenta muito útil, ou como acabei de pesquisar, uma ferramenta muito necessária, proveitosa, instrumental, preciosa, inapreciável, frutuosa, prestável, fruticosa, frutífera, frutescente, frugífera, profícua, proficiente ...

quarta-feira, junho 16, 2010

A importância de um feedback correto

O termo feedback vem sendo usado já há algum tempo de forma incessante e, às vezes, de forma incoerente. Convencionou-se pensar que toda conversa realizada com algum membro da equipe seja feedback. Obviamente que qualquer tipo de contato entre um líder e seus liderados é válido e importante, mas para ser considerado feedback deve ser bem planejado, além de ter seus objetivos definidos de forma clara, visando resolver algum problema ou desenvolver a equipe.

A principal vantagem de um feedback bem dado é deixar cada membro da equipe ciente da forma com a qual seu trabalho está influenciando a empresa, o restante da equipe e outros profissionais. Com isso, o líder evita que os profissionais que trabalham com ele sejam surpreendidos com qualquer decisão que ele venha a tomar. A ideia não é utilizar o famoso "eu te avisei" mas sim posicionar cada profissional sobre como o seu trabalho está sendo visto e avaliado.

Uma preocupação que poucos líderes têm ao dar feedback é a de preparar-se, fazer um planejamento acerca dos objetivos a serem alcançados, a forma utilizada para expor as opiniões e como reagir aos possíveis contra-argumentos que possam aparecer. Indispensável também é adaptar o discurso ao tipo de pessoa. Naturalmente, a abordagem para falar com pessoas mais tímidas e caladas tem que ser diferente daquela utilizada com pessoas falantes e desinibidas. Tão importante quanto o planejamento, é o que podemos chamar de senso de oportunidade. O feedback dado no dia certo e na hora certa é muito mais eficiente. Se você está querendo alertar um membro de sua equipe sobre um comportamento inadequado, nada melhor que conversar com ele no dia em que isso acontecer. O mesmo serve para elogios. Por isso, é fundamental que o líder tenha um local onde possa anotar observações à respeito dos liderados. Essas anotações devem ser lidas e atualizadas constantemente, o que fará com que a oportunidade ideal apareça naturalmente.

Todo mundo já deve saber que elogios devem ser feitos na frente de todos e repreensões apenas de forma particular. Quanto aos elogios, tanto faz onde são feitos, mas é verdade que ninguém gosta de levar bronca em público. Um feedback negativo mal dado pode causar sérios danos na autoestima de qualquer um, principalmente daqueles mais sensíveis. Além disso, diminuem a motivação e aumentam os conflitos internos. De qualquer forma, mesmo concordando que as repreensões devem ser feitas em particular, é importante que de alguma forma os outros membros da equipe percebam que o líder não está deixando passar certas coisas como se fossem normais. Se um funcionário percebe que outro chega atrasado todo dia e não sofre nada por isso poderá achar-se no direito de fazer o mesmo.

Aquele que dá o feedback deve ater-se aos aspectos mais importantes, deve ser objetivo. É responsável também por sugerir o que deve ser mudado e como isso deve acontecer. Não é indicado falar só de coisas ruins, aproveite para destacar também as qualidades e pontos positivos. Deve fazer o envolvido entender quais benefícios as mudanças propostas trarão para ele próprio, tanto na vida profissional quanto na pessoal. Deve mostrar empatia, estar desarmado de qualquer tipo de preconceito, deixar o liderado à vontade, sem interrupções desnecessárias. Se possível o feedback deve ser dado em um local onde não serão incomodados. O líder deve manter-se atento à conversa, olhando sempre para seu interlocutor, demonstrando credibilidade e importância à opinião alheia.

Para finalizar um feedback bem dado, o líder deve reforçar os pontos chaves da conversa e, juntamente com o envolvido, definir metas, cronogramas e desafios referentes ao que foi acordado e aceito. Deve enfatizar sua disponibilidade em ajudar e orientar. Posteriormente, deve ser feita também uma análise, checando se os objetivos foram alcançados, se algo ocorreu fora da normalidade e o porquê. Com isso, nos próximos encontros será possível de forma fácil e clara verificar os resultados obtidos e comemorar os retornos alcançados.

sexta-feira, junho 11, 2010

Empresas x Jogos do Brasil: algumas marcam gol contra

Toda Copa é a mesma história. A primeira coisa que o torcedor procura são as datas e horários dos jogos do Brasil para ver se poderá enforcar um pouco do trabalho para assisti-los. É um comportamento natural em um país que gosta tanto de futebol. O problema é que algumas empresas acabam entrando no "joguinho" e apenas para fazer graça e mostrar que "quem manda aqui sou eu" optam por dificultar as coisas.

Algumas forçam os funcionários a assistirem os jogos dentro da empresa e avisam: "Cinco minutos depois que o jogo terminar todos devem estar em seus postos de trabalho". Terminar de assistir a um jogo do Brasil em uma Copa do Mundo e não poder comentar, discutir e rever os gols é praticamente jogar aqueles pirulitos com chiclete fora justamente na hora que chegou no chiclete. Além disso, ninguém fica muito feliz assistindo ao jogo do lado do chefe, comendo pipoca e tomando suco de caixinha enquanto a família e os amigos estão em outro lugar, provavelmente com o barril de chopp aberto.

Outras empresam liberam os funcionários e exigem que retornem ao fim da partida. Obviamente que dependendo do horário do jogo é natural que eles retornem. Ninguém vai querer ficar em casa o resto do dia depois de uma partida que terminou às 09:30h da manhã. De qualquer forma, não acredito que deve haver radicalismos. Exigir que os funcionários voltem para trabalharem mais uma ou duas horinhas é demais. Seria uma ótima oportunidade para a empresa fazer uma média com a peãozada.

Por fim, faço uma pergunta: será mesmo que vai ter algum cliente interessado em alguma coisa antes, durante e depois de um jogo do Brasil na Copa do Mundo?

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