sexta-feira, agosto 27, 2010

[Conto] O certo pelo duvidoso

     Ele sempre foi um homem correto. Desde criança, enquanto os amiguinhos realizavam as mais diversas travessuras, ele se mantinha ordeiro e obediente. Nunca foi bobo, apenas sabia se divertir e viver a vida de forma consciente e extremamente responsável. Orgulho dos pais, de quem herdou uma educação fina e exemplar, foi sempre querido por todos, mesmo sendo alvo constante de brincadeiras à respeito do seu jeito correto de ser.

     Estava com trinta anos, casado há cinco, ainda sem filhos. Trabalhando em uma corretora de seguros, mantinha sua postura irrepreensível tanto na vida pessoal quanto na profissional. Tinha um salário excelente e ganhava prêmios pelo seu desempenho, o que lhe permitia uma vida confortável ao lado da esposa, que foi sua primeira e única namorada. Seu casamento, como tudo em sua vida, era calmo e tranquilo. Mostrava-se sempre um marido atencioso e amável.

     Começou a sentir-se inquieto. As zoações dos amigos, enfatizando seu jeito todo certinho, começavam a lhe incomodar, coisa que nunca havia acontecido. Enquanto havia tido uma única mulher na vida, todos da turma gabavam-se de sair com diversas mulheres; novas, velhas, brancas, morenas, loiras, gostosas, solteiras, casadas ... Ultimamente estava sentindo inveja em relação a isso. Respeitava as leis de trânsito, não passava em sinal vermelho, não excedia a velocidade e não estacionava em local proibido, ao contrário de todo mundo que sempre fazia isso e nunca era flagrado. Gostava de filmes, gastava uma pequena fortuna com o pacote mais caro de tv à cabo e com DVD. Os amigos compravam filmes piratas e faziam “gato” na tv.

     Repentinamente decidiu que mudaria seu jeito. Estava cansado daquela mesmice. Estava cansado de ser o certinho. Lembrou-se, entretanto, de uma frase proferida por seu pai, “Para aqueles que nasceram com dom de serem malandros e espertos, toda traquinagem dá certo. Já aqueles que nasceram para serem certinhos, serão pegos na primeira coisa errada que fizerem”. Mesmo assim estava convicto, queria ser um pouco mais como seus amigos, queria fazer coisas erradas e rir de tudo isso junto à galera. Começou a sair sozinho, sem a esposa. Ela, de início, achou estranho, mas não se opôs devido à confiança irrestrita que tinha no marido. Seu primeiro passo foi frequentar casas de prostituição. Adorou aquele ambiente. Depois de realizar a primeira traição de sua vida, sentiu-se revigorado. Virou um vício, alimentado por visitas semanais às suas novas amantes. Passou a andar acima do limite de velocidade, ultrapassava pela direita, pela esquerda, por onde fosse possível. Quando via sinal vermelho, apenas diminuía a velocidade e passava sem remorso. Cancelou a assinatura da tv à cabo e comprou um aparelho desbloqueado em uma loja totalmente suspeita na periferia da cidade.

     Em uma de suas saídas particulares, chamou-lhe a atenção uma loira atraente e espevitada, sentada junto à algumas amigas. Quando ela foi ao banheiro, foi junto, fazendo a abordagem. Trocaram telefones, viraram amantes. Encontravam-se no melhor motel da cidade duas vezes por semana, às três e meia da tarde. Ah sim, ela era casada. Melhor ainda! E passou a viver assim desde então, tornando-se praticamente outra pessoa. Estava gostando de tudo aquilo e se arrependia por não ter dado essa reviravolta na vida mais cedo.

     Entretanto, naquela tarde de sexta-feira, lembrou-se novamente do que seu pai havia lhe falado. Tudo começou quando esqueceu seu telefone celular em cima da mesa da sala. Já na empresa, concentrado no trabalho, atende o telefone e ouve a empregada doméstica que trabalhava em sua casa dizer:

     - Doutor, o homem da tv à cabo está aqui. Disse que precisa consertar alguma coisa.
     - Não deixe ele entrar de jeito nenhum, já estou indo aí falar com ele. Não deixe ele entrar!
     - Mas doutor, ele já entrou. Segurei ele lá fora um tempão. Estava tentando ligar no seu celular mas depois percebi que ele ficou aqui.
     - Enrole ele aí, já estou indo.

     Saiu em disparada com seu carro. Ao ver o sinal vermelho, ultrapassou pelo acostamento a fila que se formava. Não viu o carro da polícia parado bem à frente do cruzamento. Foi parado. Mostrou os documentos, levou uma bela multa e atrasou-se demais. Quando conseguiu chegar em casa, deparou-se com a empregada na porta.

     - Doutor. Acho melhor o senhor não entrar.
     - Ué, porque eu não vou entrar na minha própria casa?
     - O moço da tv à cabo estava te esperando quando seu celular tocou em cima da mesa. Ele olhou e reconheceu o número. O número da mulher dele. Era ela que ficava te ligando toda hora, doutor? Ele disse que vai te matar.
     - Caramba. Vou chamar a polícia!
     - Não precisa não doutor, ele já chamou. E falou pra eles que sua tv à cabo é clandestina.

quinta-feira, agosto 26, 2010

[Conto] Dor de dente

Dor pior que a de dente apenas a de parto. Não sei se é verdade e não quero saber, mesmo porque se algum dia eu fosse ter um filho, seria por cesariana. Naquele domingo à noite atingi o limite da dor suportável e liguei para meu dentista, consciente de que ele não ficaria nem um pouco satisfeito com a ligação, principalmente se estivesse saboreando uma pizza de quatro queijos naquele momento. Não atendeu. O que fazer então? Telefonei para alguns amigos, na vã esperança de que dessem fim, de alguma forma, ao meu martírio. Um deles, talvez o que eu tivesse menos esperança que pudesse ajudar, disse:

- Conheço uma dentista que atende casos iguais ao seu, de emergência. Minha mãe já precisou. Peraí, vou te passar o número.

Aguardei até que ele retornasse, já com papel e caneta preparados. Coitado, mal ele pronunciou o último dígito eu já havia desligado. Não aguentava mais aquele suplício. Nem havia passado pela minha cabeça que a dentista não atenderia, que não daria certo. Estava confiante até o sexto toque ... Já ia desligar quando ouvi:

- Doutora Elza, boa noite.
- Boa noite, Doutora Elza. Estou com uma dor de dente inenarrável, peguei seu contato com um amigo, gostaria de saber se pode me atender agora.
- É claro, menino. Pode vir imediatamente, estarei lhe esperando. Anote o endereço.

No mesmo papel usado para anotar o número do telefone lá estava agora o endereço da minha salvação. Peguei a chave do carro e saí em disparada, com o objetivo claro de percorrer aqueles dez quilômetros em menos de cinco minutos.

O local era agradável, moderno e bem limpo. Toquei a campainha e Doutora Elza apareceu rapidamente, com seu jeito bonachão e simpático. Entrei. Mal podia esperar a hora de ouvir o barulho do motorzinho dando início ao fim da minha dor. Sentei-me na cadeira, Doutora Elza percebendo meu martírio fez algumas perguntas rápidas sobre o local da dor e já iniciou os procedimentos. Eu lá, com a bocona aberta a ponto de doer meus maxilares e Doutora Elza começou a conversar comigo, tentando transformar um monólogo em um diálogo quase impossível. Todo mundo já passou por esse tipo de situação, de estar com um dentista que acha que você vai conseguir responder às perguntas que lhe faz estando com a boca aberta, duas mãos e um motorzinho dentro. Mas Doutora Elza era a pior de todas que eu conhecia. Perguntou meu nome completo, minha idade, se era casado, se tinha filhos, no que eu trabalhava, se tinha cachorro ...

- Mas me conta, meu filho ... Você, tão bonito assim, ainda solteiro?
- Ãã!
- Que coisa, né? Hoje em dia não está fácil conseguir uma mulher decente. Você não tem nem namorada?
- Ã..ãã!
- Ah, namorada você tem!
- Ã .. nãã!
- Agora entendi, não tem nem namorada. É, como eu estava dizendo, hoje em dia é mais fácil achar um homem decente do que uma mulher honesta, concorda comigo?
- Ãã!
- Pois é, esse mundo está perdido, meu filho. Mas você já namorou, né? Não é gay não, né?
- Ãã! Nããããããã!

Cada vez que eu tentava responder minha boca doía ainda mais. E por mais que eu tentasse mostrar minha afonia, ela repetia a pergunta até que eu, sem outra opção, emitisse algum som nasalado. Tal tormento prolongou-se durante longos trinta e cinco minutos, ao fim dos quais eu já sabia que ela era viúva, tinha três filhos, um deles vivendo no Canadá, pai de uma belezinha chamada Antonia. Mas nem me importei muito quando percebi que minha dor havia finalmente cessado. Tudo havia valido a pena e eu estava agradecido a Doutora Elza.

Sentei-me então à sua frente, diante daquela bonita mesa de madeira.

- Obrigado por me atender nesse horário, Doutora Elza. Quanto lhe devo?
- Duzentos reais.
- Duzentos reais? Sei que atendimentos realizados aos finais de semana e à noite são mais caros, mas duzentos reais?
- Ãã!
- Poxa, Doutora Elza, dá pelo menos para dividir em duas vezes para mim?
- Ã .. nãã!

21 listas de dicas para aprimorar a leitura e a escrita (Blog Livros e Afins)



A importância de uma equipe equilibrada

Em seu livro Management Teams: why they succeed or fall, R. Meredith Belbin enfatiza que não basta ter, em uma equipe, os melhores profissionais individualmente; eles têm que ter características complementares. Veja abaixo a classificação criada por Belbin e veja em qual delas você se encaixa:

Papéis direcionados para a AÇÃO - Os que Fazem/Agem – são orientados pela necessidade de agir e tomar decisões

Implementador (implementa idéias): Bem organizado, disciplinado, eficiente. Conservador e previsível - coloca idéias básicas em prática. Pode ser lento na tomada de decisões e inflexível.

Formatador (dá forma e direciona ações): Dinâmico gosta de ação e trabalha bem sob pressão. Corajoso e motivado por obstáculos. Pode ser insensível e provocativo.

Completador/Acabador (termina o trabalho): Conscientizado e ansioso, completa tarefas, faz seguimento e assegura-se de que os processos sejam seguidos. Procura e corrige erros. Pode se preocupar em demasia e tende a não confiar no trabalho alheio, relutando em delegar.

Papéis direcionados para o trabalho CEREBRAL - São os que pensam / resolvem problemas – são orientados pela razão e são analíticos

Semeador (semeia idéias): Resolve problemas difíceis, com ideias criativas, originais. Tende a se preocupar demasiado com suas ideias e esquece de se comunicar bem; pode ignorar detalhes.

Monitor/Avaliador (monitora e avalia o trabalho): Pensa cuidadosamente e tem visão clara dos processos. Honesto, discreto, estratégico e tem bom discernimento. Pode lhe faltar energia ou habilidade para inspirar os outros.

Especialista: Gosta do processo de aprendizagem e por isso reúne conhecimento e experiência, podendo resolver problemas em áreas chaves. Tendência a ser extremamente técnico.

Papéis direcionados para as PESSOAS - São os que desenvolvem e entendem as pessoas - orientados pela necessidade de socialização

Coordenador: Confidente, maduro, clarifica objetivos e promove o trabalho. Tem facilidade em delegar tarefas e ajudar os membros da equipe a manter o foco. Pode ser excessivamente controlador, tendência a delegar mais que trabalhar e a manipular.

Trabalhador em Equipe: Diplomático, cooperativo e perceptivo. Se importa pelos membros da equipe; sabe ouvir e resolver os conflitos sociais. Pode ter problemas tomando decisões difíceis; evita conflitos ao invés de tentar solucioná-los, o que leva a conformidade.

Investigador de Recursos: Extrovertido, entusiástico e comunicativo. Explora novas ideias e possibilidades, considerando o potencial humano – bom em networking. Pode ser excessivamente otimista e perder energia depois de passado o entusiasmo inicial.

Fonte: Baseado nos nove Team Roles de Meredith Belbin (1993)

sexta-feira, agosto 20, 2010

[Conto] Mata ela, filhinho!

Depois que passou a viver naquela casa sua vida mudou drasticamente. Para melhor, para muito melhor. Ela havia passado grande parte de sua vida zanzando por lugares fedegosos, escuros e perigosos. A tranquilidade que aquele local lhe trazia era reconfortante. Até mesmo o desdém quase total das pessoas que ali moravam não lhe incomodava. Ficaria mais feliz se tivesse um pouco mais de atenção, de carinho. Mas aí seria exigir demais, o simples fato de ter encontrado aquela porta aberta no momento que mais precisava já era motivo para gratulação eterna.

De todos que lá moravam, a pessoa que mais lhe gerava simpatia era aquele garotão lindo, brincalhão e sorridente. Era, afinal, o único que não a menosprezava, que às vezes brincava um pouco, conversava. Devia ter seus três anos, no máximo. Já a garota (uns doze anos) e o casal de adultos mal notavam sua presença. Melhor assim.

Seu cotidiano era, não raramente, enfadonho e melancólico. Tinha seu cantinho onde podia descansar com relativa tranquilidade. Acordava cedo para aproveitar o período em que todos ainda dormiam. Andava pela casa toda, menos nos quartos. Nesses momentos sentia-se mais livre, como se fosse realmente um membro daquela família. Ficava mais tempo na cozinha, onde deliciava-se com doces. Como adorava doces! Café também lhe agradava. Bolos então, que delícia! Com o sol oferecendo seus primeiros raios luminosos, ela já não tinha tanta liberdade.

O homem era o primeiro a acordar. Fazia barulhos estranhos no banheiro, sem se preocupar se incomodava os outros ou não. Soava o nariz, tossia, acionava a descarga do vaso sanitário várias vezes. Ia até a cozinha, bebia um copo de água e começava a fazer o café. Como de costume, nem notava sua presença. Terminado o café trancava-se novamente no banheiro para tomar banho. Era mais uma oportunidade para ela deliciar-se com um cafezinho fresco, feito na hora. Antes mesmo do homem terminar o banho, sua mulher também acordava, ia direto para a cozinha, onde xingava baixinho o marido por ter deixado as coisas do café todas sujas e fora do lugar. A garotona também não tardava a deixar sua cama, pois estudava de manhã. Como ela ficava linda com aquela sainha plissada do uniforme. Já o menino acordava cada dia em um horário diferente, tirando proveito da idade onde as responsabilidades não vão além de um mero pedido de benção antes de dormir.

Durante a maior parte do dia ficavam na casa apenas ela, a mulher e o garoto. O pai saía cedo e voltava tarde. A garota voltava na hora do almoço, comia alguma coisa e se trancava no quarto. Dessa forma, sua companhia resumia-se à encontros breves e fortuitos com o molequinho com cara de levado. Tinha que tomar muito cuidado, os movimentos desajeitados dele eram sem dúvida um risco para um ser tão frágil e desconjuntadiço como ela. Mesmo assim, gostava quando ele ficava perto, mexendo aqueles dedinhos gordos.

Tudo ia muito bem até aquela fatídica terça-feira. As últimas palavras que ela ouviu foram: “Mamãe, tem uma formiga aqui”. “Mata ela filhinho!”.

quarta-feira, agosto 18, 2010

[Livro] A Metamorfose, de Franz Kafka

Adicionar legenda
Definitivamente "A Metamorfose" não é um livro só para ser lido. Ele dever ser também pensado, analisado, refletido. A história, por si só, não é suficiente para justificar a fama da obra e de seu autor, mostrando-se relativamente simples e bem curta.

Mas quando o leitor mais atento e interessado transcende a simples leitura, transpondo a situação vivida pelo personagem principal à vida real, aí sim tem-se uma real e justa impressão sobre a qualidade do texto de Kafka. De forma bastante atemporal, "A Metaformose" nos faz refletir sobre a situação onde uma pessoa respeitada e amada por todos perde essa importância à medida que não se mostra mais útil.

Esta obra de Kafka, escrita no início do século passado mostra-se um exemplo clássico do que hoje chamamos de literatura fantástica, estilo que vem tendo grande sucesso, mostrando-se como leitura obrigatória para esse público. Ainda não está convencido de ler A Metamorfose? Então, lá vai mais um motivo: tem apenas 96 páginas, de leitura extremamente fácil.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Meu primeiro conto publicado

Como leitor inveterado e postulante à escritor amador, tenho o costume de acompanhar blogs sobre literatura, novos escritores, etc. Em um desses acessos, no blog Na Ponta dos Lápis encontrei um post sobre a organização de uma antologia de contos organizada pelo escritor e editor Leonardo Schabb em parceria com a Editora Multifoco.

Seguem abaixo mais informações sobre a antologia, retirada do blog acima citado:

(...) O nome da coletânea será Alétheia - Ficção Especulativa. (...) Alétheia é a palavra do grego que indica verdade. Mas a verdade da filosofia, com todas as complexidades que isso traz. Acho um nome interessante, porque esta é a busca que este livro de contos procurará realizar. Não, claro, necessariamente uma busca pela verdade de fato, mas pela reflexão; a idéia é provocar o leitor através de histórias que não precisem ficar presas ao mundo real e convencional. Por isso a opção pela ficção especulativa. Como disse antes, o objetivo desta antologia não é só reunir um monte de contos sobre um mesmo gênero, mas produzir realmente um livro de qualidade, algo que as pessoas gostarão de ler e de indicar.
Os textos a serem recebidos devem gerar uma investigação, de alguma maneira, das características humanas, filosóficas ou de nossa sociedade por intermédio de suas histórias fantásticas. As histórias alternativas (aquelas que em geral surgem da expressão "E se tal coisa acontecesse", partindo para algo fantástico ou fora da realidade) provavelmente são as que se encaixarão melhor no tema, mas outros tipos de contos fantásticos também serão bem-vindos.


Dediquei-me então à escrever um conto com essas características. Pensei, escrevi, reescrevi, revisei e finalmente enviei o conto entitulado "O Chifre". Para minha surpresa e satisfação inenarrável, meu conto foi escolhido para fazer parte da Alétheia, conforme pode ser visto aqui.

Segue agora o trâmite burocrático e mais técnico da montagem do livro. De qualquer forma, em breve terei meu primeiro conto publicado. É o início da realização de um sonho que poderá culminar com um livro inteiro de minha autoria. Sonhar é preciso, e não paga imposto.

terça-feira, agosto 10, 2010

Ler como objetivo e 5 dicas para que isso não seja uma obrigação, por Alessandro Martins (Blog Livros e Afins)

Ler mais é uma das grandes preocupações das pessoas no ano que chega. Além do quesito saúde, as listas de cada um tem algo em comum em boa parte das vezes. Leitura.

Todos nós sabemos que ler deve ser um ato de prazer e ele é. Sempre que aceitamos a idéia da leitura como algo obrigatório, imediatamente lembramos daqueles professores que nos atiçaram a ler um divertidíssimo Machado de Assis na hora errada. Isto é, quando não acharíamos divertidíssimo, embora ele o seja e muito.

Ora, se ler é algo prazeroso, não precisa e não deve estar associado com obrigação. Eu já me peguei pensando desse jeito várias vezes. Nada de errado, mas encarar as coisas assim pode tornar você um tanto neurótico a ponto de fazer uma lista com os livros lidos, como se eles fossem as presas abatidas em um safari.

Ler e prazer estão associados. Então, se não lemos o suficiente ou tanto quanto gostaríamos, a resposta é simples. Por algum motivo, não atendemos aos chamados de nossos prazeres – não só o dos livros, mas como um todo -, chamados que, de outra forma, seriam naturalmente atendidos.

Solução? Eliminar tais motivos tanto quanto possível.

Para tanto, fiz uma pequena lista de dicas que podem vir a ajudar.

Separe um tempo durante o dia para ler

Ler leva tempo e isso não deve mudar tão cedo. Cada vez mais as pessoas buscam prazeres rápidos e ficar de cinco a oito horas com um livro na mão se torna inconcebível. Mas acredite, os prazeres demorados são aqueles que mais valem a pena.

Guarde um tempo fixo do dia para essa atividade, se organize, faça uma agenda. Não precisa ser de cinco a oito horas. Quem sabe dois tempos de quinze minutos por dia? Já está bom. Depois de um ano, eles farão toda a diferença. Lembre-se: vale a pena, afinal é o seu prazer.

Outro problema é que as pessoas não associam prazer à disciplina e reservar uns minutos para a leitura exige disciplina. Nunca esqueça de levar sua diversão mais a sério do que a qualquer outra coisa.

Leia apenas o que lhe der prazer

Um dos maiores escritores que conheço – por livro, naturalmente – é Jorge Luis Borges. Qual a sua maior ambição? Ser um bom leitor. E não é pouca ambição. Seu conselho? Leia o que lhe faz feliz. Se você começar a ler alguma coisa e aquilo não lhe arrebatar, sequer o atrair levemente, deixe de lado. Talvez não seja a hora de ler, talvez nunca seja. Não faz mal. Existe uma infinidade de livros bons que vão lhe fazer feliz. Se quiser ler um pouco mais sobre isso, sugiro este artigo (http://livroseafins.com/literatura-uma-forma-de-alegria/).

Prepare o terreno

Nem sempre podemos escolher ou preparar o local em que vamos ler, mas, se pudermos, ajuda muito. Quem sabe uma poltrona aconchegante, ou uma escrivaninha levemente inclinada para facilitar ou até mesmo a cama, embora muitos não a recomendem pois você pode associar a leitura ao sono ou a cama ao manter-se acordado e nenhuma das duas opções é boa. Prepare uma bebida. Pode ser um café, um chá, um suco. Algo gostoso. Verifique se a temperatura está de acordo. Se preciso, abra ou feche uma janela. Arranje uma manta quentinha ou ponha uma pantufa ridícula, mas de que você gosta. Busque silêncio.

A idéia é preparar o ambiente, como em um ritual, de maneira a você ficar predisposto, antes mesmo de começar, aos momentos de prazer que viverá. Não recomendo música, pois olhos e ouvidos iriam brigar por atenção.

Mas o ambiente também pode ser uma situação. Um dos meus maiores prazeres é ler em uma panificadora muito movimentada aqui perto de casa enquanto tomo um pingado em um copo americano grande e como um pão com manteiga. Adoro fazer isso. Talvez você eleja uma árvore ou queira ficar com os pés em um riacho enquanto lê. Vale tudo. É um pouco de auto-conhecimento. Só você pode dizer o que é melhor para você em qualquer aspecto da vida. Neste também.

Outra coisa importante: preparar o ambiente para devotar sua atenção a essa atividade é uma questão de respeito. Alguém, um contemporâneo seu ou uma pessoa de muito tempo atrás, achou importante investir o seu precioso e curto tempo na Terra para escrever as palavras que estão no livro e assim transmiti-las a um leitor. E esse leitor é você. Ei! Não olhe para o lado… estou falando com você. É uma honra ler seja lá o que for. Talvez alguém tenha morrido para essas palavras chegarem até você. Talvez muitas pessoas. Portanto, as linhas não podem passar sob dois olhos entediados.

Leia junto com alguém

Se ler é algo prazeroso, nada melhor que um prazer solitário deixar de ser solitário e passar a ser compartilhado com alguém. Quem já deu uma trepadinha que seja na vida sabe do que estou falando. Eu e Júlia, no momento, lemos um para o outro, alternadamente, o livro História Sem Fim, de Michael Ende. É ótimo poder acompanhar aos poucos o desenrolar da história na voz de quem se ama. E essa pessoa pode ser não só sua namorada ou sua mulher. Pode ser seu irmão, irmã, amigo ou amiga. Compartilhar um livro é compartilhar vida. E compartilhar vida, bem… conheço poucas definições tão boas para amor. Se isso não fizer a leitura deixar de ser uma obrigação, não sei o que fará.

Se alguém se perguntou – e tenho certeza de que alguém fez isso – respondo: sim, eu e Júlia também fazemos outras coisas. Não entrarei em detalhes.

Leia menos

Esta dica parece contrariar seu próprio objetivo, mas ela é genial. Consiste da seguinte sabedoria: nunca faça nada prazeroso em tal quantidade que essa atividade fique cansativa, desgastante ou mesmo dolorida. Se isso acontecer com freqüência, com o tempo essa atividade, ainda que ela seja a mais prazerosa, será associada a desgaste e cansaço. Sempre.

- Ah, isso não acontece com o sexo…

É? Pense nas prostitutas.

Então, saia da mesa com um pouquinho de fome, pare de ler no melhor momento daquele capítulo. Guarde pra depois.

Com o tempo, os limites vão se alargando e mesmo “lendo menos” você vai notar que passou a ler muito mais do que quando começou a adotar estas táticas.

E, mais importante, mantendo o prazer e valorizando cada vez mais o que você lê.

Estas são minhas dicas, mas tenho certeza de que você tem as suas. Portanto, não se acanhe e as deixe aí embaixo nos comentários.

Fonte: Blog Livros e Afins ( http://livroseafins.com/ )

sexta-feira, agosto 06, 2010

[Livro] Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey

Nenhum livro fica na lista dos mais vendidos bastante tempo à toa. "Uma Breve História do Mundo" justifica essa presença, mostrando-se um livro que trata um tema "pesado" e culto (História) com linguagem mais simples e de fácil entendimento.

Por outro lado, aqueles que realmente gostam e têm uma maior familiaridade com o assunto acabam sentindo falta de um aprofundamento maior, de mais detalhes, de mais qualidade na descrição dos eventos históricos. Isso não é uma falha do livro e sim uma característica. O autor realmente cumpre o que promete: uma BREVE história do mundo.

Acredito que o público alvo do livro seja formado por pessoas que gostam de História mas não são aficcionados. Para estes últimos, a leitura de obras mais densas e completas sobre eventos históricos específicos será mais proveitosa e prazeirosa.

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