quarta-feira, novembro 16, 2011

Esforço extra

Um dos principais desafios enfrentados no gerenciamento de equipes de TI é o cumprimento dos prazos acordados com os clientes (sejam eles internos ou externos), especialmente quando metodologias ágeis são utilizadas, com entregas em curtos períodos de tempo. Qualquer situação atípica ou inesperada pode colocar tudo a perder.

Os desenvolvedores, como qualquer ser humano (apesar de alguns não parecerem ser), estão sujeitos a ficarem doentes, terem problemas pessoais ou não renderem adequadamente. Indefinições ou mudanças de requisitos, apesar de totalmente indesejáveis, podem surgir durante o processo de desenvolvimento. Isso sem contar as dificuldades técnicas não esperadas, fazendo com que uma atividade que deveria consumir um dia se estenda por três ou quatro.

Diante de um cenário tão caótico, não é incomum estarmos há alguns dias de realizar a entrega ao cliente e a situação se mostrar um tanto quanto preocupante. Nesses momentos, é importante tomar decisões. É possível negociar com o cliente a data de entrega? Em alguns casos sim. Na grande maioria deles, é inviável ou muito desgastante. Surge então o grande vilão das equipes de desenvolvimento: o famigerado "esforço extra".

Atualmente, grande parte dos profissionais de TI trabalham no esquema conhecido como "PJ", ou seja, não são funcionários da empresa. Como quase tudo nessa vida, há vantagens e desvantagens para ambos os lados. O profissional, nesta situação, emite uma nota fiscal à empresa cobrando pelas horas que ele trabalhou em um determinado período. No caso do "esforço extra", poderia até ser vantagem para o profissional trabalhar mais horas, porque ganharia mais. Mas nem sempre a situação é tão simples.

A empresa, que recebe de seu cliente para realizar um determinado trabalho não pode simplesmente começar a pagar mais para seus desenvolvedores, sob pena de reduzir sua margem de lucro. O cliente, naturalmente, também não vai querer pagar a diferença. O desenvolvedor, que em alguns casos pode até parecer mas não é bobo, dificilmente irá querer trabalhar de graça. A situação para os profissionais que trabalham sob o regime da CLT varia um pouco, mas acabam tendo situações semelhantes. Como viabilizar então o "esforço extra"?

Existem duas formas conduzir essa negociação. A primeira e mais simples, consiste em reunir a equipe e esbravejar: "É o seguinte: temos que entregar isso na próxima segunda-feira, sem falta. Não há negociação possível com o cliente. Resolvam. Vocês devem se virar para fazer as coisas acontecerem. Ah, um detalhe: não tenho como autorizar horas extras porque o contrato não permite." Essa abordagem funciona? Algumas vezes sim. Alguns desenvolvedores ficarão com receio de serem demitidos ou mau vistos pela empresa e realizarão o trabalho necessário.

Uma segunda forma de resolver essa difícil equação é o gerente primeiramente reconhecer que a situação não foi gerada exclusivamente por culpa da equipe. Fatores externos podem ter influenciado decisivamente. Deve então reunir a equipe, expor a situação e quais os impactos ruins que a não entrega poderia causar para a empresa, para o projeto e para eles próprios. Deve deixar claro que somente eles podem mudar a situação, dando ênfase à importância que cada um tem na finalização do trabalho. Deve também ser sincero o suficiente para declarar que talvez as horas adicionais não serão pagas, mas que poderá haver compensação delas em folgas. Tudo isso sem qualquer tom ameaçador ou de tragédia.

Como eu comentei anteriormente, a primeira abordagem pode e deve funcionar em várias situações. Deverá funcionar, entretanto, somente nas primeiras vezes que acontecer. Chegará um momento em que os desenvolvedores, os melhores principalmente, começarão a procurar outra empresa para trabalhar. Utilizando a segunda forma, por outro lado, o gerente e a própria empresa reconhecerá de forma sincera as causas do problema, será claro ao posicionar sobre a importância de realizar a entrega na data acordada e manterá uma postura positiva e de apoio aos desenvolvedores. Deve também propor a discussão posterior das causas, de forma a buscar maneiras de evitar a sobrecarga de trabalho. Se a equipe é realmente profissional e comprometida, a chance de realizarem o esforço adicional é grande.

Existe infelizmente, principalmente na área de TI, uma cultura de ver de forma muito natural cargas horárias muito acima do considerado ideal, trabalhos de madrugada e finais de semana. Obviamente que algumas situações exigem e o profissional deve estar consciente disso. Mas, na minha opinião, situações como essa devem ser a exceção e não a regra. É muito importante aprender com os erros e realizar de forma efetiva alterações para que situações de estresse não se repitam continuamente.

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