quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Entre contratados e demitidos, não salvaram-se todos ...

Há três anos, em uma empresa como qualquer outra, a semana iniciou-se de forma totalmente normal. Apenas aparência. O fantasma da instabilidade que vinha rondando os funcionários se materializou logo na segunda-feira. Sem muita explicação e sem margem para muitos questionamentos, seis colaboradores foram dispensados. Alguns com anos de casa, outros com menos de seis meses. Aqueles que ficaram não viram nenhuma injustiça naqueles desligamentos. O problema principal era a falta de transparência. Nenhum comunicado divulgado. Nenhuma explicação. Os critérios não eram claros, o que mantinha uma arraigada sensação de insegurança, criando um ambiente de dúvida e medo.

Rezam as cartilhas da boa administração que um turnover alto não é bom sinal. A constante troca de funcionários além de deixar a todos inseguros, contribui para uma baixa perfomance tanto daqueles que entram, pois demoram a produzir, quanto daqueles que precisam continuamente e repetidamente ensinar as tarefas aos mais novos. Apesar dessa obviedade e clareza, esta não era uma preocupação importante
naquela empresa. Contratavam e demitiam sem nenhuma parcimônia, algumas vezes com razão, outras nem tanto.

A cada funcionário novo, repetia-se o ritual de ensinar-lhe a usar corretamente os sistemas, explicava-lhe os processos do departamento e era apresentado a seus superiores, subordinados e colegas. Natural que para isso fosse necessário que um funcionário com mais tempo de casa se ausentasse de suas atividades normais. Seria tudo isso normal caso não acontecesse várias vezes, muitas delas no mesmo departamento, para a mesma função.

A raiz do problema era o processo de seleção. Anunciava-se a vaga, recebiam-se os currículos, que eram analisados e filtrados, finalizando com as tão famosas entrevistas. Nenhuma novidade. Os critérios, ou talvez a prioridade entre eles, é que não eram os mais corretos. Muitas vezes oferecia-se um salário baixo para um cargo de coordenação. Apareciam bons candidatos mas sem a vivência necessária. Eram contratados como apostas, pelo potencial. Inúmeras vezes apostas erradas, que resultam em mais uma demissão, mais um processo seletivo, mais um funcionário e mais um processo de adaptação. Todo o departamento sofria, toda a empresa sentia. Em outras situações candidatos no máximo razoáveis eram contratados como salvadores da pátria em função da baixa exigência salarial e também da urgência em recompor uma equipe. Na maioria dos casos eram desligados com menos de seis meses de trabalho.

Outro realidade chamava a atenção. Alguns funcionários com anos de casa que não estavam mais apresentando bom rendimento eram tolerados de forma exagerada. Mesmo com baixa produtividade, falta de senso de urgência e dificuldades em trabalhar em equipe se achavam merecedores de regalias e no direito de se sentirem superiores aos outros. Contaminavam os mais novos, o que invariavelmente causavam novas demissões. Além disso, em função da fraca e amadora política de retenção de talentos, não raro excelentes funcionários, exauridos com o ambiente de trabalho ruim, com a sobrecarga gerada pela incompetência de outros e com a falta de perspectivas acabam se transferindo para outras empresas.

Curioso para saber como anda esta empresa atualmente? Está em decadência? Faliu? Foi comprada pelo concorrente? Não. Nenhuma das alternativas. Continua funcionando bem, aliás, muito bem. Realizaram mudanças drásticas na gestão de pessoas? Não. Continuam trabalhando da mesma forma. Como explicar então que o sucesso seja possível mesmo com uma gestão totalmente em desacordo com as melhores práticas? Pergunta interessante, resposta difícil. O primeiro argumento é que esta empresa tem inúmeras outras qualidades, tanto em sua cultura e processos quanto nos funcionários que lá trabalham. Excelentes profissinais, em nível executivo, de gerência e operacional dão o melhor de si, conseguindo bons resultados. O mercado em que ela atua está em excelente fase, possibilitando excelentes margens de lucro. A concorrência possivelmente apresenta a maioria dos mesmos problemas. Nesse contexto, a empresa vai continuar bem. Até que surja alguém fazendo diferente ... e melhor.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Ser (bonzinho) ou não ser, eis a questão.

Atualmente não há mais espaço para chefes tiranos, que tratam seus funcionários hora com indiferença, hora com falta de educação e humanidade. Mas que eles existem, existem. E continuarão sempre a existir porque essas (más) características são inerentes a alguns seres humanos, sejam eles chefes ou não. São exacerbadas e trazidas à tona quando tais indivíduos assumem posições de coordenação ou gerência.

Tenho convicção que o principal papel de um líder é conciliar os objetivos da empresa com os de seus subordinados. Não deve assumir o papel de defensor dos fracos e oprimidos mas também deve ser capaz de analisar até que ponto uma solicitação atendida pode indiretamente ser também a melhor opção para a empresa. Se um funcionário pede aumento, o líder reconhece seu merecimento e acha importante atendê-lo para evitar perdê-lo, nada mais coerente do que lutar para que seja atendido. Por outro lado, um funcionário que vem faltando e atrasando rotineiramente, mesmo que tenha seus motivos para isso, deve ser avisado que tal situação prejudica a empresa e também o ambiente de trabalho dentro da equipe.

Partindo do pressuposto que o chefe não deve ser um troglodita, surge a questão: até que ponto ele deve ser bonzinho? Em que situações deve assumir uma postura mais rigorosa e instransigente, dando maior ênfase aos objetivos da instituição? É uma questão muito delicada porque envolve a cultura da empresa e também a personalidade do líder. Inicialmente devemos considerar que é complicado um líder trabalhar e ser feliz em uma empresa em que os valores e ideais não sejam os mesmos que os seus. Claro que não há nunca 100% de coincidência entre os dois lados, mas caso as diferenças sejam grandes, a relação que vai existir entre ambos é de instabilidade. Aos primeiros sinais de insucesso, independente dos motivos, o resultado será a saída ou a demissão.

Pensando então em uma empresa que dê pelo menos uma razoável importância ao ser humano e que o líder tenha as mesmas características, até que ponto a preocupação em agradar os funcionários pode ser benéfica? A primeira varíavel que deve ser considerada é o tamanho da equipe. Em grandes equipes torna-se inviável conversar e entender individualmente os problemas de cada um. Fica também muito mais complicado evitar a sensação de que alguns subordinados estão tendo vantagens. O risco é que, diante de tal situação, toda a equipe passe a exigir as mesmas "regalias" que porventura tenham sido cedidas a algum deles. Nesse cenário é indispensável que existam mais regras formais e que o líder adote uma postura de não permitir exceções, sendo tolerante e permissivo somente em situações de força maior como aquelas que envolvam doenças ou problemas pessoais graves.

A liderança sobre equipes menores permite abordagens mais individualizadas. É justamente aí que mora o perigo. A proximidade com cada membro da equipe tende a criar um ambiente de informalidade, criando brechas para uma "amizade" perigosa. Nada contra, obviamente, um líder ser amigo pessoal de seus subordinados. A "amizade" à qual me refiro é aquela onde pequenos deslizes são deixados de lado e baixos rendimentos não têm a reação que merecem. Nesse sentido, o líder deve ter uma vigilância constante sobre o seu próprio comportamento, sob pena de se transformar em um excelente chefe para os funcionários e um péssimo funcionário para empresa que paga seu salário.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

[Livro] Se eu fechar os olhos agora, de Edney Silvestre

Depois de um início meio sonolento e sem motivação, "Se eu fechar os olhos agora" pega ritmo e prende a atenção. Escrita de forma muito simples e direta, usando e abusando de diálogos curtos, a história é original e interessante.

Edney Silvestre, repórter da Globo, demonstra muito talento ao descrever as angústias, as curiosidades e a coragem de dois meninos de 12 anos junto a um velho que mora no asilo da pequena cidade do interior do Rio de Janeiro. Narrando a busca dos personagens pelo esclarecimento de um crime misterioso, o autor mostra com muita propriedade os hábitos e a cultura do Brasil da década de 60.

A leitura é agradável, leve, fácil e rápida. O final é muito prazeroso, não exatamente pelo que foi escrito, mas pela forma com a qual foi escrito.

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