quinta-feira, abril 28, 2011

Escrever contos, por Miguel Sanches Neto

Escrever contos
muito pouco te a ver
com contar casos
que ouvimos na rua,
soubemos por amigos,
jornais ou pela tevê.
Um conto é um corte
na pele fina do hoje
e ele sangra tanto
que, para estancá-lo,
resta-nos o manto
de termos cotidianos.

Não escreva contos
para fazer graça.
Só admita a piada
quando for amarga.
A tristeza do tempo
que nunca pára,
mesmo o amor maior
nos espeta o peito
com sua pior farpa.
Conto repele risadas.
Isso é para a crônica
que ajuda a digerir
as comidas pesadas.

Apenas escreva contos
em estados de fúria,
com um ódio santo
contra toda a turba.
Um conto necessário
é um ato de cura,
uma catarse em meio
à insanidade de tudo.
Escreva contos para
emudecer esse mundo
tomado pela usura.

Não escreva contos
como quem brinca
com palavras móveis,
incrustáveis nas frases.
Conto já nasce pronto.
Todo esforço vem antes,
ao se sofrer o corte
e sangrar até a morte.
Não é com palavras
que se faz um conto,
mas com sentimentos
imensos de desencontro,
entre o eu e o mundo,
mesmo quando o mundo
é quem nós somos.

Tente escrever um conto
que te prepare um pouco
para te ver como morto.
Estar vivo é algo falso
porque breve em demasia.
Todo conto é um canto,
um canto de despedida.

Não escreva contos
com palavras eruditas.
Conto é linguagem viva,
a mesma usada no bar,
na hora do namoro,
no balcão da padaria.
Palavras do dia-a-dia,
que súbito se concentram
para dizer de uma vez algo
que ninguém mais diria.

Escreva os seus contos
como quem se suicida,
sem deixar bilhetes
dando os tais motivos.
Um conto não se explica.
É morte imprevisível,
a vida como enigma,
a força de um mistério
que não se silencia.

Só escreva os seus contos
quando não houver quando.

Fonte: http://herdandoumabiblioteca.blogspot.com/2010/09/escrever-contos.html

quarta-feira, abril 27, 2011

Quais as diferenças entre Artigo, Conto, Crônica e Ensaio?

É comum, até para leitores mais experientes, haver uma confusão sobre a classificação de um texto como artigo, conto, crônica ou ensaio. Eu mesmo, apesar de já ter lido muito à respeito, volto à essa questão frequentemente. Na tentativa de jogar um pouco mais de luz sobre o tema, segue abaixo um texto muito simples e eficiente publicado no site Recanto das Letras, de autoria de Obed de Faria Jr. Atente-se também à diferenciação feita pelo autor entre conto, novela e romance.

Existem espalhadas por aí diversas explicações teóricas – umas mais, outras menos – buscando diferenciar artigo, conto, crônica e ensaio. Por certo, não serei eu a refutar, de maneira categórica, tão abalizadas descrições e opiniões que existem a respeito disso.

O importante, creio eu, é notar que existem circunstâncias onde essas modalidades – ou sub-gêneros – de prosa, confundem-se entre si, até porque determinados hibridismos, vez por outra, são inevitáveis.

Não possuo nenhuma qualificação formal que me habilite a emitir conceitos de forma irrefutável, contudo, brinco de escrever faz umas três décadas e um tanto. E, obviamente, gosto de escrever porque adoro ler. Em função, tanto de uma coisa como de outra, acabei me aventurando a tentar entender um pouco sobre as técnicas da instigante arte da escrita. Se nada do que eu disser pode ser considerado como algo definitivo, talvez possa servir de referência a quem também se interesse e queira estudar um pouco mais.

Para que tudo não fique muuuuuuuuuuuuuuito teórico – porque isso é por demais chato, às vezes – tentarei falar sobre os assuntos da forma mais simples que me for possível.

CONCEITOS PRELIMINARES

Texto Dissertativo X Texto Narrativo

Dissertar é falar sobre algum tema de maneira explicativa. É dizer o quê, por que, onde, como, quando, em função de que e ou a fim de que. Não são necessários todos esses elementos, mas uma descrição para ser inteligível necessita, indispensavelmente, de algum tipo de articulação lógica que, enfim, explique algo ou especifique a seu respeito.

Narrar é expor uma trama, um enredo. Dizer sobre alguém passando por algo na vida – ou fora dela, hehehe - sozinho ou com mais alguém, pensando com seus botões ou interagindo com outros. Só que pressupõe a existência de uma história a ser contada.

Texto Ficcional X Texto Não Ficcional

Ficcional é aquilo que é fruto da imaginação, da inventividade. Não ficcional é aquilo que procura ser o mais fiel à realidade, quanto possível. Esses são dois extremos num espectro que admite vários matizes. Ou seja, raramente um texto é totalmente ficcional e, ainda, da mesma forma, raramente consegue ser totalmente fiel à realidade.

Quase tudo que se inventa é baseado em algo que já existe, existiu ou poderia existir – por mais fantasioso que possa ser. Mesmo um relato extremamente fantástico possui algum paralelo com a realidade, caso contrário, não haveria termo de comparação para que sua natureza fantástica se sobressaísse.

Por outro lado, por mais que se tente falar da realidade com total isenção, é inevitável que a percepção individual de quem esteja a relatar alguma coisa acabe imprimindo alguma subjetividade de natureza totalmente particular.

Por fim, existem aquelas criações que são, propositalmente, uma parte ficcional e outra parte nem tanto. O que prepondera mais ou menos é irrelevante, pois depende da intenção de quem criou.

Dito isso, passemos à análise das modalidades ou sub-gêneros de prosa, propriamente ditos.

CLASSIFICAÇÃO DE TEXTOS EM PROSA

Não pretendo aqui enfrentar a árdua tarefa de analisar as classificações literárias dos textos. Isso demandaria um compêndio – que eu não tenho a menor condição de esboçar – e, ainda, enveredaria por conceitos teóricos que vêm de tempos imemoriais.

Basicamente, o enfoque que parece interessante, neste ensejo, é simplesmente dizer que os gêneros literários – DENTRE OUTRAS CLASSIFICAÇÕES – “podem” ser divididos em prosa ou poesia. Mesmo entre esses dois gêneros, há momentos em que ambos se confundem, existindo a chamada prosa poética ou poesia feita de concatenações em prosa.

Para simplificar, prefiro pensar que um texto é tanto mais “prosa” quanto menos seja “poesia”; e vice e versa. Poesia é manifestação cheia de emoção, lirismo ou, mesmo, mero exercício lúdico com as palavras. As figuras que atribuem a um texto a condição de ser poético ou não são tão variadas e dependem tanto do gosto ou da opinião de quem lê, que só isso já seria motivo para se falar e falar pela eternidade e mais dois dias.

De qualquer maneira, o que vem a ser poesia, se não estiver explícito na conformação do próprio texto composto em versos, ou pelas figuras que utilize, é algo bastante intuitivo para a maioria das pessoas.

Portanto, prosa é o que não é poesia – mas nada impede que aquela tenha um pouquinho desta; até porque esta é sempre uma variante daquela. (Agora, eu viajei!!! kkk)

Sem pretender esgotar as inúmeras hipóteses possíveis, vamos diretamente ao cerne do que se pretende por aqui.

Artigo

Artigo é um texto dissertativo e de cunho não ficcional. É um relato sobre fatos, pessoas ou circunstâncias existentes na realidade concreta e sobre os quais se pretenda descrever aspectos tidos por relevantes ou, ainda, fundamentar alguma opinião.

Representa uma articulação que toma realidades próximas ou remotas, no tempo e ou no espaço, como base que dá ensejo e teor ao texto. O articulista não precisa necessariamente ter contato direto com os fatos e circunstâncias sobre os quais se proponha a falar, podendo valer-se – e quase sempre o faz – de informações e notícias que lhe cheguem ao conhecimento por relatos de outrem e ainda com base em pesquisas direcionadas especificamente para tal fim.

Crônica

Crônica é um texto narrativo e pode ser, em maior ou menor grau, de cunho ficcional. Versa sobre experiências, vivências ou pontos de vista pessoais do cronista. Pode tratar de relatos sobre fatos ocorridos em tempos distantes ou em momentos atuais e – por que não? – até divagações sobre o que esteja por acontecer. De qualquer forma, basicamente, são impressões essencialmente pessoais de quem escreve.

Ensaio

Ensaio é um texto dissertativo e essencialmente não ficcional. Não é um artigo, porque, por mais que parta de informações mais ou menos remotas com relação ao ensaista, busca fundamentar uma visão pessoal que ele tenha sobre algum tema. É uma divagação sobre algum tema não necessariamente pessoal, porém, imprimindo premissas, inferências e conclusões opinativas de quem o escreve. Tende a lidar com assuntos e interesses que remetam a um enfoque universalista – ou que assim se pretenda sejam encarados. É alguém expondo sua opinião pessoal sobre uma verdade que, a seu modo de ver, precisa ser apresentada a todos.

Conto

Conto é um texto narrativo e essencialmente ficcional. É uma trama que gira em torno de algum acontecimento ou circunstância, no mais das vezes não real, envolvendo um ou mais personagens.

Gosto de dizer que um conto é uma historinha. Fica tão mais fácil de entender. As piadas são bons exemplos de contos que se transmitem por tradição oral. Ou seja, todo mundo já ouviu ou já contou um conto.

O que diferencia um conto de uma novela ou um romance é a limitação em algum ou alguns de seus elementos. Ele pode ser curto ou longo, porém tende a não ser demasiadamente longo em função da própria limitação de seus demais aspectos. Ele costuma girar em torno de uma única trama, enquanto que os outros gêneros criam tramas paralelas que transcorrem em conjunto com a trama principal. Tende a ter poucos personagens – às vezes, um só – enquanto que os outros gêneros costumam ter um “elenco” bem maior, até para que as diversas tramas tenham lá seu próprio desenvolvimento.

HIBRIDISMO ENTRE AS MODALIDADES

Há textos que podem ser classificados tanto como artigos, quanto como crônicas. A descrição de fatos e circunstâncias que venha acompanhada de uma grande carga opinativa do articulista, acaba ganhando contornos que tendam a aproximar-se da crônica, na medida que as impressões pessoais tenham uma preponderância relevante.

Da mesma forma, há crônicas que se aproximam de artigos. Isso porque utilizam tanto de informações e fatos remotos ao cronista que, mesmo sendo seu intuito expor suas impressões essencialmente pessoais, a grande carga de elementos externos ou remotos à sua realidade acaba lhe conferindo contornos de um artigo.

Por outro lado, há crônicas que tangenciam assuntos tão universais e cujo trato pelo cronista seja tão profundo, que acabam se confundindo com um ensaio. Há textos, inclusive, em que fica difícil distinguir o que realmente sejam, nesse aspecto.

Também, há crônicas que são narrativas construídas de tal forma que acabam se configurando quase como contos. Talvez – penso eu, particularmente – nesses casos, tanto quanto mais ficcional seja a narrativa, tão mais seja um conto; e vice e versa. Porém, são fartos os exemplos onde contos do cotidiano e crônicas simplesmente se equivalem.

Portanto, há áreas "cinzentas" onde os hibridismos entre as modalidades ou sub-gêneros de prosa se confundem de tal forma que não é possível distingui-los como sendo esse ou aquele tipo.

EXEMPLOS CONCRETOS

Há alguns anos o Brasil passou por uma crise no fornecimento de energia elétrica que ficou conhecida como “apagão”. Aliás, estamos prestes a passar por outro logo, logo (apesar dos desmentidos governamentais).

A partir do tema “apagão”, a construção de textos poderia ser assim desenvolvida

Artigo sobre o “apagão”

Relataria sobre as fontes de energia elétrica no Brasil, suas dimensões e capacidades, distribuição nas diversas regiões, as soluções adotadas anos atrás, as circunstâncias atuais, as opiniões do governo, de especialistas na área, das empresas fornecedoras, dos consumidores e, também, uma conclusão do próprio articulista sobre os rumos desse problema num futuro próximo.

Crônica sobre o “apagão”

Narrativa sobre as agruras e percalços do cronista quando do racionamento de energia elétrica, apontando fatos e circunstâncias curiosos, engraçados ou comoventes que, a partir de uma circunstância particular possa provocar a identificação dos leitores.

Ensaio sobre o “apagão”

Dissertação relatando sobre a crise energética do planeta, em busca de soluções de fontes renováveis, abordando depredação do meio ambiente, desafios tecnológicos, a dependência inexorável da humanidade da energia elétrica e concluiria sobre os confrontos entre os limites éticos da exploração de recursos na busca de manter as conquistas de conforto do homem no século XXI e pelas gerações vindouras.

Conto sobre o “apagão”

A história de recém casados, totalmente apaixonados que, ao irem morar numa casa alugada, descobriram que as limitações impostas pelo racionamento iriam lhes obrigar a adaptarem suas rotinas. As pequenas disputas em torno das decisões sobre o que e como a energia elétrica seria usada vai deteriorando o relacionamento colocando-os em pé de guerra. O final... bem, daí já é outra história, né?

CONCLUSÃO

Nada disso esgota o assunto e, certamente, o intuito é de dar um enfoque que permita à reflexão dos interessados e os induza, caso assim queiram, a discordar, complementar ou simplesmente buscar um aprofundamento no estudo técnico na arte da escrita
Fonte: Obed de Faria Jr Site: obed.zip.net

quinta-feira, abril 21, 2011

Miguel Sanches Neto

Para minha surpresa e grande satisfação, o autor Miguel Sanches Neto (autor de Então você quer ser escritor?) está me seguindo no Twitter (o meu é @tarcmello) e postou minha resenha em seu blog Herdando uma Biblioteca.

Obrigado Miguel !

quinta-feira, abril 14, 2011

[Livro] Textos fundamentais, de Daniel Coleman (org.)

É possível que um livro que o leitor demorou mais de um ano para terminá-lo seja bom? Sim, é possível. Mas este, definitivamente, não é o caso de "Textos fundamentais".

Adquiri esse livro porque gosto de temas como gestão de pessoas, equipes, administração. Entendi bem a ideia proposta, disponibilizar resumos e análises curtas sobre os mais influentes livros de negócios de todos os tempos. Meu objetivo era conhecer, mesmo que superficialmente, a ideia de autores tão renomados para que, se me interessasse por algo, fizesse a leitura da obra em si.

É preciso fazer justiça que este não é um livro para ser lido em uma sentada, nem em duas, em três. Classifico-o como uma obra de referência, daquelas para se ter na mesa do escritório ou na estante e utilizá-la em pesquisas.

Mas a verdade tem que ser dita, o livro é ruim. A grande maioria dos livros analisados foi publicada há muitos anos atrás (muitos mesmo). Mas são estes os livros mais influentes, diriam os defensores. Concordo, mas poderia haver uma mescla maior com livros mais atuais. O mundo mudou, e não foi pouco. A tradução é simplesmente horrível! Algumas frases simplesmente não dizem nada. Outras ficam confusas, praticamente ilegíveis. Por fim, nas análises das obras a mesma coisa é dita várias vezes de forma igual ou muito semelhante. Enrolação pura.

"Textos fundamentais", na minha opinião, não serve nem para ocupar espaço na estante: é caríssimo e existem muitos outros livros tão ruins quanto ele, mas mais baratos e mais grossos.

quarta-feira, abril 13, 2011

O que leva você a comprar um livro?

O blog Livros e Afins está participando de um movimento chamado "blogagem coletiva". São várias perguntas referentes à leitura, sendo que a que mais me chamou a atenção até agora foi:

"O que leva você a comprar um livro?"

Minha resposta: Eu acredito que seja um conjunto de coisas que me faça tomar a decisão de comprar um livro. Leio bastante blogs literários e tenho a revista Veja como uma fonte de informações sobre bons livros. Considero principalmente o assunto mas me encanto com belas capas, com um material de qualidade. Para mim, não basta eu LER um bom livro, gosto de TER bons livros. Considero-me um egoísta literário, não troco meus livros. A minha estante, cada vez mais cheia, me encanta. Gosto de ver todos eles lá. Empresto somente aos amigos mais íntimos.

Responda você também !!!

segunda-feira, abril 11, 2011

[Livro] Então você quer ser escritor?, de Miguel Sanches Neto

Sou um apreciador de contos já há algum tempo. Talvez porque eu sonhe algum dia poder publicar os meus. Mas enquanto isso não acontece, os leio com dois objetivos: me divertir e aprender - plenamente atendidos nessa obra do paranaense Miguel Sanches Neto, bem conceituado no meio literário como crítico e autor.

Em uma resenha que fiz sobre um livro de contos de Tchecov, afirmei que os contos (em especial aqueles mais curtos) devem oferecer ao leitor um final que cause alguma surpresa, algo inesperado, que o faça pensar "eu realmente não tinha pensado nesse desfecho". Mas a literatura não define métodos, regras. É uma arte e, como tal, dá liberdade ao artista para fazer o que quiser. Se vai ficar bom, é outra história. Tchecov é um exemplo: seus contos tem finais melancólicos. São contos ruins? Claro que não, são ótimos. Mas continuo preferindo aqueles que me surpreendem. Sanches Neto consegue isso em vários dos contos deste livro, em especial nos excelentes "Sangue", "Animal nojento", "Redentor" e "Na minha idade", além do último, que dá nome ao livro, deliciosamente ousado e admirável.

Se existe um conselho que eu daria às pessoas que não curtem muito literatura mas que sentem-se culpadas por isso é começar lendo contos. São curtos, geralmente de leitura leve e agradável. Devem manter um bom livro de contos sempre à mão, para ler no banheiro, na cama antes de dormir, ou mesmo em uma viagem ou sala de espera de algum consultório médico. Mas tem que ser um livro bom, como este agradabilíssimo "Então você quer ser escritor?".

sexta-feira, abril 08, 2011

Como motivar um funcionário

Um dos assuntos que mais geram discussão, livros e artigos é a tentativa de responder a velha pergunta: como motivar os funcionários de uma empresa? Se existe tanta gente pensando sobre isso há anos é porque a resposta não é trivial.

Naturalmente, em se tratando de seres humanos, a forma de motivar um funcionário pode diferir totalmente daquela utilizada para fazer o mesmo com outro. O que é importante para um pode não ser para outro. Cada indivíduo tem sua vida particular, o modo como foi criado, sua formação acadêmica, suas características psíquicas, seus anseios e seus objetivos. Esse é o motivo pelo qual, vez por outra, ouvimos gestores dizendo que "mexer com gente não é facil".

Esse tema ressurgiu em meus pensamentos após ter lido um resumo do livro "The motivation to work", de Frederick Herzberg e outros. As ideias apresentadas pelos autores são fortemente fundamentadas na conhecidíssima hierarquia das necessidades de Maslow, mais conhecida como "pirâmide de Maslow" (quem fez MBA certamente já ouviu falar). Entretanto, pelo que pude perceber pelo resumo, não se trata de uma mera cópia. O que mais me agradou na obra de Herzberg, inclusive, foi a forma mais simples e objetiva que tratou o tema.

O pensamento principal do autor é o de que a motivação vem do interior da pessoa e não de uma política imposta pela empresa. Divide os fatores que influenciam a motivação em dois: higiêncios e motivacionais. Os primeiros abrangem necessidades básicas tais como condições de trabalho, benefícios e segurança. Os motivacionais englobam os fatores humanos: necessidade de realização, desenvolvimento pessoal, satisfação no trabalho e reconhecimento. O raciocínio mais interessante é o de que os fatores higiênicos, se atendidos, criam um ambiente propício para o funcionário buscar a motivação. Entretanto, a satisfação destes não necessariamente cria a verdade motivação. Ela só virá se houverem também os fatores motivacionais.

Herzberg fez uma distinção importante entre os fatores que causam infelicidade e aqueles que, efetivamente, contribuem para a satisfação no trabalho: "a inversão dos fatores que tornam as pessoas felizes não as torna infelizes". Em outras palavras, para tornar um funcionário satisfeito não basta eliminar a infelicidade dele. A ausência de infelicidade não necessariamente resulta em felicidade. Para termos uma motivação efetiva, a empresa tem que oferecer mais do que o básico fatores
higiênicos).

Tal discussão é bem pertinente nos tempos atuais em que, ainda, um grande número de empresas acredita que o funcionário deve sentir-se feliz simplesmente porque tem um bom salário pago em dia. Algumas nem isso fazem: nem um bom salário oferecem. E depois ainda reclamam do turnover alto e do baixo rendimento.

10 passos para ser escritor

Texto originalmente escrito por Charles Kiefer, em seu blog

1. Ninguém nasce escritor, torna-se escritor. E o que leva alguém a se transformar em escritor é a genética e a cultura. A primeira é destino, a segunda – é conquista. Para a primeira, ainda não temos solução. Para a segunda, basta a vontade, o desejo de ser. Como dizia Jean Paul Sartre, um ser humano será, acima de tudo, aquilo que tiver projetado ser.

2. Vontade sem ação é devaneio. Para de sonhar e age. Escrever é como nadar, como andar de bicicleta – é preciso movimentar os braços, movimentar as pernas. No caso da escrita, é preciso movimentar o cérebro.

3. O melhor exercício para o cérebro é a leitura. Além de nos transformar em escritores, a leitura é importante para a saúde, evita o Mal de Alzheimer.

4. Um escritor não precisa ser um lobo solitário, como pregava Hermann Hesse. Pode – e deve – freqüentar cursos acadêmicos, oficinas literárias. Aliás, hoje em dia, é aconselhável que pretendentes à escritura evitem o romantismo e as idéias feitas.

5. Desde o tempo de Platão e Aristóteles, só há dois tipos de escritores, os idealistas e os materialistas, e não há conciliação entre os dois. Há extraordinários escritores idealistas e péssimos escritores materialistas, e há extraordinários escritores materialistas e péssimos escritores idealistas.

6. Ser um escritor idealista ou materialista é só uma questão de ideologia, de visão de mundo. Evite, apenas, o panfletarismo, que é o uso servil das idéias. Não existe literatura isenta, politicamente. Na estrutura profunda de um texto, a ideologia sempre se manifesta. Na estrutura aparente, ou de superfície, o que importa é a técnica.

7. Só existem bons e maus escritores, no sentido técnico. O que são bons escritores – ainda não sabemos. O que são maus escritores nós o sabemos sobejamente.

8. São maus escritores aqueles que constroem histórias desconexas, de temas inexpressivos e estereotipados, em estilo adiposo, desajeitado, flácido, sem harmonia e sem sutileza, com cenas e situações inverossímeis, compostas com descrições desnecessárias e sem articulação com a narração, e arrematadas com diálogos artificiais e inúteis.

9. Todo escritor é um vir a ser. Acreditar-se pronto e acabado é o princípio da morte autoral. A obra prima pode ser a primeira, a décima segunda ou a última obra de um determinado autor. Quem assina a obra completa é a morte. Enquanto vivo, o escritor é um ser em construção. Por isso, o orgulho e a vaidade são extremamente perigosos. Quem sacraliza o próprio texto pode inventar uma nova religião, mas não uma grande literatura.

10. Um escritor somente é escritor quando menos é escritor, no instante mesmo em que tenta ser escritor e escreve. Na absoluta solidão de seu ofício, enquanto a mente elabora as frases e a mão corre para acompanhar-lhe o raciocínio, é escritor. Nesse espaço, entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí. Depois, já é o primeiro leitor, o primeiro crítico de si mesmo e não mais escritor.

Fonte: blog Livros só mudam pessoas

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