terça-feira, setembro 30, 2008

"Eu juro que não apertei o botão !"



No último dia 28 aconteceu a primeira prova noturna da história da Fórmula 1, em Cingapura. Foi um espetáculo maravilhoso. Em termos da disputa do campeonato, a diferença do líder Lewis Hamilton para Felipe Massa era de apenas um ponto. Massa era o pole position e por ser um circuito "travado", tinha grande chances de vencer a corrida e se tornar o novo líder, faltando apenas 3 etapas para o fim. Tudo ia bem até que outro brasileiro, Nelsinho Piquet bate seu carro, obrigando a entrada do "safety car". Nesse momento, vários pilotos resolveram entrar nos boxes para reabastecimento e troca de pneus, inclusive Felipe Massa.

Para quem não conhece bem Fórmula 1, enquanto o carro fica parado nos boxes, um mecânico segura uma placa bem na frente da cabeça do piloto pra indicar que ainda não está liberado. Quando terminam o trabalho, o piloto vira a placa, indicando ao piloto para já engatar marcha e depois, com uma nova indicação, sinaliza que ele pode sair. Essa placa tem o curioso nome de pirulito. É usada há bastante tempo, por todas as equipes. Acontece que a Ferrari resolveu modernizar, criou um luminoso, tipo um semáforo onde temos luz vermelha (permanecer parado), luz amarela (engatar a marcha) e verde (liberado para sair). Acontece que esse luminoso é controlado por um mecânico e, naquele dia, o que aconteceu foi uma trapalhada das grandes. O carro ainda estava sendo abastecido e o tal mecânico acendeu a luz verde. Massa, obviamente, acelerou o carro, levando a mangueira de combustível junto, derrubando um mecânico ... Enfim, lambança total !!! Resultado: Massa teve que voltar aos boxes para retirar a mangueira, sofreu uma punição e não conseguiu chegar à zona de pontuação da corrida. Lewis Hamilton, seu principal concorrente ao título, chegou em terceiro, aumentando a vantagem para 7 pontos.

Primeira conclusão: existem coisas que NÃO precisam ser modernizadas. O tal do pirulito funciona bem faz tempo. É a mesma coisa de querermos modernizar o palito de dentes, o palito de fósforo (talvez colocando a cabeça do outro lado ! rs). Segunda conclusão: a culpa foi de quem ? Do mecânico que acendeu a luz verde na hora errada ? Que nada ... Eu aposto que ele disse: "Eu juro que não apertei o botão, foi problema do sistema !". Essa é a mesma resposta que muita gente utiliza hoje em dia.

Com a disseminação do uso de computadores nas empresas dificilmente alguma coisa que não é feita por intermédio deles. Tudo é feito "no sistema". Obviamente isso gera um ganho de produtividade imenso, tarefas que antes eram feitas em dias agora são feitas em minutos. Não cabe discussão quanto à isso. Mas a questão é que maus profissionais ganharam de bandeja um bode expiatório. Tudo que acontece de errado, "é culpa do sistema", "eu juro que fiz certo", "deu erro na hora que eu estava fazendo ...".

Como softwares são feitos por seres humanos, eles realmente estão sujeitos à bugs e erros. E não são poucos, infelizmente. Nos dias de hoje as empresas têm investido mais em qualidade de software e testes com o claro objetivo de evitar tais problemas. Por outro lado, mesmo que os bugs e erros aconteçam, eles não acontecem TANTO como nos fazem acreditar algumas pessoas. O bom funcionamento de um software também é de responsabilidade do usuário, e não somente das pessoas que o desenvolvem. O que acaba acontecendo, principalmente em empresas que têm a área de TI forte, bem organizada é que, invariavelmente, com o tempo esse tipo de usuário acaba perdendo a credibilidade. E credibilidade é igual confiança, perde-se apenas uma vez.

sexta-feira, setembro 26, 2008

O valor do conhecimento nos dias de hoje por Waldez Ludwig



Para quem preferir ler o conteúdo da entrevista, eu transcrevi abaixo:

Há uma transformação na economia toda. O "resumo da ópera" é assim: nós temos uma economia baseada em conhecimento. Só se vende, só se compra ... é conhecimento. Se ela é baseada em conhecimento, o que importa mesmo é a inovação. O que importa para uma empresa, o único fator de competitividade que sobrou chama-se inovação, capacidade de inovar. E inovação, só vem de gente. Inovação não vem de máquina. Então o ser humano passou a ser a chave da estratégia das empresas. O empresário bacana sabe que a única coisa que presta na empresa dele são os funcionários dele. O resto não vale nada ! Empresas com patrimônio do tamanho dessas companhias aéreas aí e com problemas, certo ? O melhor equipamento do mundo ... não adianta isso se você não colocar seu funcionário em primeiríssimo lugar. É a única coisa que vale ! Tá certo ?

Se eu deixo de ser "senhor de engenho", eu não preciso de "capataz". Por que que tem "capataz" ? Porque o "senhor de engenho" detesta sujar as mãos. Então, o que que ele faz ? Contrata um "capataz". Nas nossas empresas ele dá o nome de gerente pra esse cara. Aí você pergunta: "O que é que você faz?", pro gerente. "Nada ...". Certo ? "O que é que você faz aqui ?" ... "Eu coordeno". "Eu supervisiono" ... Nada, ele não faz nada !!! Ele passa o dia como "capataz". Ou seja, controlando os outros. Certo ? "Acabou o que eu pedi ?", "Cadê o relatório porque o homem tá pressionando ...". Sempre tem um homem pressionando o cara. Ele fica no meio-de-campo ... está desempregado o cara. É um cara que não sabe fazer nada. Só controlar os outros. "Me dá aqui que eu assino" ... ele adora assinar.

Agora, essa estrutura ainda vive porque se tem "senhor de engenho", se tem "capataz" é porque existe a terceira raça, que é a maioria das pessoas que tem vocação pra escravo. Aí é a questão do empreendedorismo. Eu não posso mais ir pro mercado de trabalho como um escravo. O que que é um escravo ? Detesta trabalhar ... E é fácil fazer o teste, é fácil fazer o teste para saber se é escravo ou não. Você pergunta pra pessoa assim: E se você ganhasse na Mega-Sena ? Aí o cara responde assim: "Se eu ganhasse na Mega-Sena eu não passava nem na porta daquela empresa". Ele odeia trabalhar. Bom, ele tem a síndrome do domingo à noite, ele confunde o salário completamente, ele acha que ganha pouco e ponto final. Ele esquece que a regra do salário é igual no mundo inteiro, desde a época de Adão e Eva. As pessoas recebem pela sua raridade e não pela sua importância. Os professores estão em alta e ganhando pouco. Por que ??? Porque tem muito !!! E o Popó ganhou em dois minutos o que um professor nunca vai ganhar. Mas Popó só tem um ! E professor tem muito !

E, o erro definitivo do escravo: é trabalhar mal porque ganha pouco. (Pergunta) "Por que que você está trabalhando tão mal ?". (Resposta) "Porque eu ganho pouco. Com o dinheiro que eles me pagam, não é pra fazer trabalho espetacular não". E aí ele fica ali. Quem é que vai te achar ??? A minha orientação: primeiro, se você ganha pouco, você tem que fazer um trabalho espetacular !!! Porque aí alguém te acha ! O cara que começa a jogar bola, ele começa a jogar bola ganhando salário mínimo. E ele não faz gol contra porque ganha pouco. "Vou fazer gol contra !" "Por que?" "Porque eu ganho pouco ...". Ele vai e mostra o talento dele, e aí alguém descobre. Se você ganha pouco, faça um trabalho espetacular !!! Olha que engano ... E o pior ainda: o escravo tem essa coisa de não gostar muito de salário. Gosta do benefício. "Tem ticket, tem vale ? O importante é cesta básica!" Por que isso ? Porque a estrutura industrial ainda está aí, a velha, para a maioria das empresas. [Um funcionário que é maravilhoso e que nunca é reconhecido, o que ele tem que fazer ? Se demitir da empresa ?] Claro !!! Você faz um trabalho espetacular e o cara continua pagando pouco ...

Mas você tem que saber quanto você vale no mercado. O cara chega pra mim e diz "Eu quero aumento". Eu digo: "Tem alguém querendo contratar você?". "Não". Então ... isso é no mundo todo, não importa se é socialismo, se é comunismo ou capitalismo, isso vem desde Adão e Eva. Então você tem que saber quanto você vale também, pra poder exigir. É igual passeata de servidor público: "Eu quero, eu quero !!!" Estou vendo que quer, mas ... "Quanto você vale ? Me diga quanto você vale". Infelizmente é assim. Esse modelo industrial velho morreu então. É o fim do capataz, morre junto o tal do gerente. É o fim, completo, da escravidão. Agora sim acabou a escravidão.

terça-feira, setembro 23, 2008

Chega (só) de INICIATIVA !



Quantas vezes você já ouviu falar: "Você precisa ter mais iniciativa !!!" ? Pois é, todos já ouvimos isso inúmeras vezes. Atualmente, seguindo a onda de que todos devemos ser líderes, uma das principais qualidades exigidas nos processos seletivos é a INICIATIVA. A questão é que não basta só a iniciativa, precisamos da ACABATIVA (essa palavra não existe, mas bem que deveria !).

Todo final de ano, na noite do Reveillon, prometemos ler mais, aprender Inglês, ser mais tolerante e amável com o parceiro, economizar um pouco, praticar exercícios físicos, etc, etc, etc. Toda noite de domingo prometemos fazer aquela bela dieta e ir à academia a partir de segunda. De tudo isso que prometemos, o que realmente realizamos ? Pouca coisa. E sabem o porquê ? Porque falta ACABATIVA, só temos a INICIATIVA.

A relação entre a iniciativa e a acabativa pode ser analisada sob vários aspectos, exemplos é que não faltam. A conclusão geral é a de que a maioria das pessoas é muito criativa mas extremamente ruim na execução de suas idéias. Seja por preguiça ou por falta de preparo a verdade é que sempre ficamos esperando que alguém execute a nossa idéia ou que por alguma intervenção divina aquilo aconteça sem o nosso esforço.

Se você acha que precisa e quer fazer um curso de Inglês, não tem jeito. Tem que reservar um dinheiro para pagar, tem que ir lá fazer a matrícula, tem que fazer o teste pra ver o seu nível atual, tem que sair de casa duas vezes por semana e ir lá assistir e participar da aula, mesmo que o seu dia tenha sido extremamente cansativo. Se você quer emagrecer, também não tem jeito: tem que comprar uma roupa adequada, encontrar um local em que possa praticar exercícios, sair de casa, ir até a este lugar e fazer os exercícios físicos. Só pensar, infelizmente, não emagrece.

sexta-feira, setembro 19, 2008

O meu Everest


Esta semana assisti à palestra entitulada "O meu Everest", realizada por Luciano Pires. Luciano foi um alto executivo de uma multinacional do setor de auto-peças por vários anos. Começou a se interessar pelo Everest há vários anos e depois de muito ler e ver documentários sobre sua escalada decidiu encarar o desafio de chegar até o acampanhamento base do "teto" do mundo. Acima disso, somente para profissionais.

Luciano conta em sua palestra como foram os preparativos técnicos e psicológicos, a organização da viagem, a chegada ao Nepal e todo o processo de subida até o acampamento base. Ele realmente tem o dom da oratória como diriam os antigos, fala muito bem, prende a atenção, usa farto material e faz analogias muito simples e interessantes entre sua aventura e nossa vida pessoal e profissional. Tudo isso sem cansar o público.

Recomendo à todos que tiverem a oportunidade, que participem de uma palestra do Luciano Pires. Realmente vale a pena. Ele escreveu um livro sobre sua aventura, também chamado "O meu Everest". Não o li ainda, mas acredito que seja da mesma qualidade. Além disso, indico o site www.omeueverest.com . Muito interessante !

quarta-feira, setembro 17, 2008

Palestra com Max Gehringer


Tive a oportunidade de participar esta semana de um evento organizado pela AMCHAM (Câmara de Comércio Americana) através de um convite enviado por uma empresa parceira. O evento consistiu de duas palestras e de oportunidade de contatos com as pessoas presentes. Uma das palestras foi realizada por Max Geringher.

Para quem ainda não o conhece, trabalhou vários anos em grandes empresas brasileiras e agora é consultor de carreira, com um quadro de muito sucesso no Fantástico, da Rede Globo. Dentre as muitas risadas e lições que foi possível tirar da palestra, uma em especial me chamou a atenção.

Max contou que após o primeiro dia de trabalho de sua vida, chegando em casa sua avó lhe perguntou : "Gostaram de você ?". Ele, de bate-pronto respondeu à avó que não tinha essa de terem gostado dele, o que era importante era ele ser competente, fazer o que lhe pediam com qualidade. Vários anos depois, já diretor de uma multinacional foi à França fazer um curso para executivos com um dos maiores nomes dessa área no mundo. Além de Max, havia diretores de várias partes do mundo. O professor, depois de discutir um assunto pediu que cada um fizesse uma apresentação sobre o que havia entendido. Um deles, australiano, por ter ficado a noite inteira bebendo, não preparou nada e no outro dia fez uma apresentação extremamente divertida mas totalmente sem relação com o assunto. Obviamente recebeu a nota mínima. Entretanto, o professor perguntou: "Se tivessem que escolher uma apresentação que não a sua própria para repetir aqui na frente, qual escolheriam ?". Todos foram unânimes em escolher a apresentação do australiano. O professor questionou novamente : "Sabem o porquê de terem escolhido o australiano ?". Depois de alguns minutos de silêncio, ele esclareceu : "Escolheram-no por que GOSTARAM dele !". Nesse momento Max, totalmente surpreso, se lembrou do que sua avó analfabeta e ignorante havia lhe falado tanto tempo atrás.

A lição que fica é a de que não basta sermos competentes, estudados, fazermos as coisas certas na empresa. Precisamos "ser gostados" ! Quando todos gostam da gente é sinal de que realmente estamos no caminho certo.

terça-feira, setembro 16, 2008

Formação sim, mas e emprego ?



Durante o período eleitoral o que mais ouvimos são as promessas dos candidatos. Uma delas sempre me chama a atenção: investir na formação profissional da população, principalmente em cursos técnicos. Obviamente que não tem como ser contra uma proposta dessa, afinal realmente o brasileiro precisa de formação, de mais anos de estudo. Por outro lado, de que adianta formar todo mundo, com diplominha na mão se não houver vagas para absorver essa mão-de-obra que estará mais qualificada ?

É consenso no meio acadêmico e também entre vários estudiosos que, quanto melhor a formação profissional da população de um país, maiores condições ele terá de crescer. A idéia seria mais ou menos assim: um país que tiver lixeiros, pedreiros, peões de fábrica com no mínimo segundo grau, melhor ! Se tiver lixeiros, pedreiros, peões de fábrica com curso superior, melhor ainda ! Certo ? Sim, é claro.

Quanto maior a qualificação média, mesmo que o trabalho não exija tanto, mais condições esse profissional terá de desempenhar suas funções com excelência. A questão é que, se cargos que exigem pouca qualificação têm pessoas com boa formação trabalhando é sinal de que em cargos mais importantes, teremos pessoas ainda mais qualificadas.

Acontece que, uma pessoa que investe tempo e muitas vezes dinheiro em formação profissional, deseja melhorar de vida, ganhar mais, conseguir melhores empregos. Para o país é ótimo ter pós-graduados limpando as ruas, mas e para eles ? Desmotivante ...

Desta forma, não basta os políticos prometerem investir em formação e capacitação profissional. Precisam também atrair novas indústrias, estimular empresas de ponta, formar um parque industrial forte que possa absorver esse contingente de pessoas que estudaram e estão melhor qualificadas.

Além disso, é temeroso aumentar de uma hora para outra o número de faculdades e cursos técnicos como andam prometendo. Parece que é simples : "Vamos criar uma universidade municipal", "Vamos criar cursos profissionalizantes em todos os bairros" ... Uma pergunta básica: onde vão encontrar professores em quantidade e qualidade suficientes ? O que vai acontecer é o que vemos, infelizmente, em muitos lugares: professores fingindo que ensinam e alunos fingindo que aprendem, esperando logo chegar o intervalo pra matar as últimas aulas.

Estou lendo ...