terça-feira, março 24, 2009

O "baixo clero" nas empresas

Muitos devem se lembrar de um acontecimento de 2005 que causou surpresa na Câmara dos Deputados, em Brasília. O então deputado Severino Cavalcanti, tido como um azarão, foi eleito presidente da Câmara. Sua eleição só foi possível porque o chamado "baixo clero" - grande maioria dos deputados sem expressão e presença na mídia – resolveu apoia-lo.

Cada empresa também tem seu "baixo clero". É formado geralmente por aqueles funcionários que têm salário baixo e que não exercem nenhuma influência nas decisões. É a chamada "peãozada". A maioria é desconhecida da diretoria da empresa e passa totalmente desapercebida. O alto escalão da empresa muitas vezes não liga a mínima para este pessoal, tendo na cabeça a ideia de que funcionários deste nível são descartáveis e encontrados quando quiser e na quantidade que quiser. E aí que muita empresa erra feio.

Todo funcionário, independente do salário que recebe, tem sua cota de contribuição para as coisas darem certo ... ou darem errado. Nenhum coordenador, gerente ou diretor consegue fazer seu trabalho bem feito se todos abaixo dele não executarem suas funções com empenho e qualidade. No livro "O livro de ouro da liderança", o autor John C. Maxwell escreve:

"Acho que, às vezes, cria-se uma ideia equivocada de que os líderes de peso - especialmente os grandes personagens da História - são capazes de realizações importantes seja qual for o tipo de ajuda que recebam dos outros. Acreditamos que Alexandre o Grande, Júlio César, Carlos Magno, Luís XIV, Abraham Lincoln, D. Pedro I e Winston Churchill teriam sido pessoas notáveis independente do apoio que recebessem. Mas isso não é verdade. Se não tivessem contado com muita gente disposta a trabalhar com eles, não teriam alcançado o sucesso".

Funcionários de médio e alto escalão frequentemente estão em contato com a diretoria da empresa, podendo expor seus anseios e sua angústias. Além disso, têm seu trabalho acompanhando de perto e os sucessos não raramente são premiados com bônus e promoções. Já o pessoal do "baixo clero" segue naquela vidinha de sempre, muitas vezes sem ninguém notar se ele foi trabalhar ou não. A questão principal que quero destacar é que qualquer funcionário precisa de motivação para render. Logicamente as necessidades e objetivos de cada pessoa diferem muito, principalmente em cargos muito diferentes. Mas são seres humanos da mesma forma. Se não estiverem trabalhando felizes e em busca de um objetivo, dificilmente irão gerar bons resultados.

Quando um funcionário que ganha R$ 600 pede demissão, pouca gente dá a mínima, visto que é muito fácil arrumar pessoas nessa faixa salarial no mercado de trabalho. É mais ou menos como se a empresa dissesse: "Não quer, tem quem quer ...". Acontece que mesmo um funcionário que ganha R$ 600 pode ser um ótimo funcionário, acima da média. Ele está ganhando R$ 600 porque não teve oportunidade de estudar, foi criado em uma família que não o estimulou. Mas isso não quer dizer que ele todos sejam iguais. Há os "peões" excelentes e há os "peões" que não mereceriam ganhar nem os R$ 600. Exatamente como existem ótimos gerentes e outros nem tanto.

Se não for dada a devida atenção ao "baixo clero" de uma empresa, ela pode ter sérios problemas. Talvez não aconteça uma greve um rebelião mas pode acontecer aquele tipo de boicote silencioso, do dia-a-dia, onde alguns funcionários realizam suas tarefas em marcha lenta ou de forma errada. O turnover aumentará, exigindo novos treinamentos, novas adaptações. Apesar de muitas vezes ser difícil mensurar o impacto deste tipo de problema, com certeza o custo se mostrará alto ... mais cedo ou mais tarde.

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