quarta-feira, abril 28, 2010

Eles aqui, você lá ...

Histórias sobre executivos ou profissionais super atarefados, que deixam a família de lado, preocupados apenas com o sucesso e o trabalho existem aos montes e já viraram uma espécie de clichê. Eu mesmo já escrevi um conto sobre o assunto. Gostaria, entretanto, de fazer um convite a todos. Um exercício de concentração e imaginação. Se você é casado, pense na sua esposa. Se não for, vale pensar na mamãe, na vovó ou na titia. Se você tiver filhos, ótimo, pense também neles. Se não os tiver, pense em alguma outra pessoa da qual você goste bastante.

Comece com sua vida atual, com o seu dia-a-dia. Quando acorda, faz o que? Toma café com alguém ou sozinho? Leva alguém no trabalho, na escola? Almoça com quem? Assiste ao Jornal Nacional e à novela com quem? Dorme com quem? Brinca com quem? Sonha com quem? Concentre-se nos detalhes, naquelas minúcias que acabam passando desapercebidas na correria diária. Lembre-se tanto do rosto amassado da sua mulher fazendo café de manhã quanto da carinha do seu filho querendo brincar de luta às 22:30h.

Imagine agora que você, em função de sua competência, recebeu uma interessante proposta profissional. A questão é que terá que se mudar para outra cidade, distante uns quatrocentos quilômetros de onde reside atualmente. Sua mulher te dá total apoio, mas sugere, com razão, que você vá sozinho, pelo menos durantes alguns meses, até que seja possível arrumar tudo para uma mudança definitiva. Você verá essas pessoas das quais gosta tanto apenas nos finais de semana. Não mais todo dia, de manhã, de tarde e à noite. Não tomará diariamente o café da sua mulher, não levará nem buscará seu filho na escola e nem terá que implicar com ele para escovar os dentes antes de dormir. Nada daquele futebolzinho de quarta com os amigos. Pense um pouco, tente fazer dessa história hipotética a sua história real, pelo menos por alguns segundos.

Sem medo de ser repetitivo, a verdade é que não sabemos dar valor às coisas do cotidiano, às coisas simples. Damos sempre mais importância em morarmos em uma casa maior, comprar um carro novo ou um celular de última geração. A vida é assim, infelizmente. Somos cobrados para sermos assim. Mas tente, pelo menos de vez em quando, colocar-se em uma outra posição, posição esta que lhe tiraria o que você realmente tem de mais importante em sua vida. Não estou dizendo que devemos sempre negar propostas profissinais desse tipo. Em alguns casos, o sofrimento à curto prazo compensa benefícios futuros. De qualquer forma, essa reflexão nos ajudará a não dar valor à coisas importantes somente quando as perdemos.

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